Invasão e resistência - Os 90anos da derrota de Lampião no confronto com o povo de Mossoró _ Parte. VI

INVASÃO E RESISTÊNCIA - OS 90 ANOS DA DERROTA DE LAMPIÃO NO CONFRONTO COM O POVO DE MOSSORÓ –"FRUSTRAÇÃO EM APODI E ATAQUE A GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO"- PARTE VI
Por José de Paiva Rebouças

Concomitante à prisão do coronel Antônio Gurgel, o bando se dividiu em duas facções para correr a região. Uma delas, chefiada por Massilon, foi a Apodi para nova tentativa de saque, mas dessa vez a história foi diferente.

O bando nem entrou na cidade. O tenente Juventino Cabral montou uma força para a defesa do lugar. Ao perceber os bandidos, policiais e paisanos dispararam uma violenta sequência de tiros. Massilon ficou em desatino e não teve como prosseguir a emboscada. Voltou desapontado com a incursão desastrosa.

A segunda facção tinha duas colunas. A primeira com Jararaca e a segunda. mais atrasada, com Lampião. Ao todo, cerca de 40 homens, além dos reféns. Seguiam em direção ao povoado de São Sebastião.

Passaram em Riacho Preto. Tabuleiro Grande, Ramadinha e Gangorrinha. No sítio Carnaubinha, chegaram à casa de Manoel Pregmácio, parada obrigatória para viajantes e comboios.

Encontraram um carregamento pertencente a Manoel Alves de Medeiros, desafeto de Sabino. A carga foi queimada. Os bandidos dançaram e beberam aguardente ao redor do fogo.
Entraram em São Sebastião por volta de onze horas da noite, sem dificuldade Na estação ferroviária, os funcionários se mantinha apostos conforme combinado com João Câmara poucas horas antes.

Aristides de Freitas ligou para o coronel Vicente Sabóia, superintendente da estrada de ferro em Mossoró, e avisou do ataque. Depois fugiu em um trole de ferro sob fogo dos bandidos.

Deficiente físico, Manoel Pereira não conseguiu escapar, mas foi poupado pelos cangaceiros. De acordo com Sérgio Dantas, Vicente Sabóia retornou o telegrama querendo mais detalhes. Um cangaceiro atendeu com ameças:

"Vocês vão ver o estrago que nós vamos fazer em Mossoró", teria dito.

Embriagados, os homens não pouparam nem os casebres. Invadiram e depredaram tudo. Saquearam os comércios de José Ludgero Costa, João de Freitas Oliveira. Adauto Dias Fernandes e Eleutério Mendes. Puseram fogo em um automóvel e em um caminhão estacionados próximos à estrada de ferro.

A destruição só parou quando Massilon se juntou ao grupo. Reclamou com Jararaca e os dois se desentenderam. Coube a Lampião acalmar os ânimos. Partiram em seguida, fazendo parada no sítio Cigana, de Francisco Chagas Lopes. Virgolino mandou um grupo na frente para saber nas redondezas se tinha notícia de alguma volante. Depois seguiu para Passagem de Oiticica, onde iria acampar.

O FIM DA FESTA EM MOSSORÓ

Quando Vicente Sabóia recebeu o aviso do ataque a São Sebastião, o povo de Mossoró estava na residência de Humberto de Aragão Mendes comemorando a vitória do Humaitá Foor-Ball Clube sobre o Ipiranga.

Ao receberem a notícia, os moradores entraram em pânico. Alguém ponderou que deveria ser boato de gente do Ipiranga para acabar com a festa. Ninguém deu ouvidos.

Os sinos das igrejas começaram a tocar e para ampliar o aviso, foram acionadas as sirenas da usina de força e luz e de outras firmas comerciais.

Muitos se dirigiram à sede da Intendência para saber mais informações. Na mesma noite começou a retirada da cidade. A ordem, segundo Sérgio Dantas era fugir.

AS PRIMEIRAS HORAS DO DIA 13 DE JUNHO DE 1927

Por volta das cinco horas da manhã, Jararaca, Moreno, Colchete e meia dúzia de cangaceiros chegaram em Passagem de Pedras de Oiticica, visivelmente embriagados.
Sem sinal de volantes, saquearam todas as casas. De lá, foram até o sítio Bom Jesus, hoje bairro de Mossoró, para ver se tinha residência. Nem sinal.

No retorno, prenderam Amadeu Lopes e o prestador de serviços de dedetização Luiz Joaquim Siqueira, o Formiga que seguiam a cavalo para Passagem de Oiticica.

No sítio Cigana, o bando comandado por Lampião assaltou Francisco Rosendo. Mas à frente, fez José da Silveira de refém por três contos de réis.

Assaltaram a choupana de Cícero Secundino e tomaram dinheiro de Pedro Lopes e José Flor. Em Ipueira, invadiram a mercearia de Antônio Vasco, no sítio Canudos, e sequestraram Anacleto de Oliveira Freitas por 500 mil réis. O refém mandou recado ao pai que lhe alcançou pouco adiante com o dinheiro do resgate.

Parte do bando se afastou do grupo maior e seguiu até outros lugares próximos. Em Lagoa de Paus, entraram na casa de João Abdias. Adiante, prenderam os sertanejos Joaquim Germano e Júlio Soares por um conto de réis cada.

Azarias Januário, da fazenda Picada, foi preso por quinhentos mil réis. O agricultor José Geraldo de Oliveira e seu filho também foram presos. Os sertanejos Adolfo Guilherme, Sancho Amaro e Belarmino de Morais foram levados para servirem de escudo humano se houvesse necessidade.
Por volta de sete e meia da manhã, o bando se reunia em Passagem de Oiticica.

Continuaremos amanhã com o título:
"ESTRATÉGIA PARA O ATAQUE"

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Fonte: Jornal De Fato
Revista: Contexto Especial
Nº: 8
Páginas: 24 E 25
Ano: 6
Cidade: Mossoró-RN
Editor: José de Paiva Rebouças
E-mail: josedepaivareboucas@gmail.com
Ilustrado por: José Mendes Pereira


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