LUIZ GONZAGA, UM ETERNO CIDADÃO VARZEALEGRENSE!…
Várzea Alegre, naquele 26 de outubro de 1977, amanheceu radiante. O sol brilhava como um cristal chamejante a viajar pelo infinito. Sua incandescência confundia-se com o brilho dos olhares que se cruzavam nas ruas. O povo vivia a ansiedade de uma típica cidade do interior em dia de gala. Era mesmo um dia de gala. O ano de 1977 trouxera bonança e marchava para o seu final sem tropeços. Ressalte-se que ainda estava por acontecer o evento mais esperado.
Por proposição do vereador José Primo de Morais, atendendo a sugestão deste humilde escriba, a Câmara de Vereadores aprovou Resolução concedendo Título de Cidadania Varzealegrense ao senhor LUIZ GONZAGA DO NASCIMENTO. Sim. A ele mesmo, o “Rei do Baião”. Tratando-se de estrela de primeira grandeza no seleto mundo artístico da época, não seria fácil equalizar o tempo de modo a colocar Várzea Alegre em seu caminho. No entanto, era preciso encontrar uma data para a entrega solene do importante galardão.
A parceria musical já firme do Rei com o nosso conterrâneo Zé Clementino foi fator decisivo na viabilização de uma data para a solenidade. Entre a Câmara e a assessoria do Rei, ficaram definidos local, dia e hora. A entrega da honraria aconteceria às19:00 h, do dia 26 de outubro de 1977, em sessão solene a ter lugar no auditório do Colégio Presidente Castelo Branco.
Tudo pronto no auditório e na cidade. Luiz Gonzaga chegaria à tardinha. Seria recebido na residência do casal Joaquim Diniz e D. Balbina, para breve descontração, aí incluídos banho, jantar etc. Zé Clementino tinha a missão de ciceronear o parceiro ilustre. Eu seria o mestre de cerimônia no palco. Por isto, nos encontramos mais cedo, tão ansiosos quanto todos os que queriam ver de perto o maior ídolo dos nordestinos.
O auditório lotou rapidamente. O povo sobrava do lado de fora e pelas ruas. Era grande a expectativa. Maior ainda a curiosidade. Ocorre que a tarde findou, chegou a noite e nada do filho de Januário aparecer. As comunicações naquele tempo eram precárias. O percurso de Exu a Várzea Alegre, naquela boca de noite, tornou-se insondável. Nenhuma notícia de ninguém. A certa altura, Zé me olhou com cara de desânimo. Sem dizer nada, olhei-o também. Calados, exclamamos: - será possível?!… O povo sumiu! Recolhi-me em casa amarrado a mil perguntas.
Passava um pouquinho das 20:00 h e me chega um portador ofegante: - Zé Clementino mandou dizer que Luiz Gonzaga chegou agora. Já está lá em seu Joaquim Diniz. Não perdi tempo. Era verdade. Lá já se encontravam Dr. Pedro Sátiro(Prefeito Municipal), Joaquim Diniz, Dalice Frutuoso e Zé Clementino.
O homenageado refazia-se no banho. Rapidamente, saiu e se arrumou. Jantou, conversou amenidades e distribuiu gracejos. Sem tempo a perder partimos rapidamente para a solenidade. Afinal de contas, estava tudo atrasado.
Temíamos que o povo não voltasse. Qual quê!!! Igual a formigueiro assanhado, voltou todo mundo. Entramos com Luiz Gonzaga pela sala contígua ao palco, de modo que a surpresa da sua presença arrebatou o público.
Saudado pelo Prefeito e pelo Presidente da Câmara, ele disse que levaria aquele título no coração e o perpetuaria no museu que estava montando. E na pessoa do seu parceiro e amigo Zé Clementino, abraçou toda a Várzea Alegre, deixando o palco feliz, e sentindo-se eternamente varzealegrense.
Para coroar a noite, lotou a Praça da Matriz e ali cantou e tocou de graça “até a sanfona ficar rouca.” Talvez, por isto, se comparava a uma “cigarra vadia.” Uma bela noite. A impressão que me ficou é de que, apesar dos percalços, aqueles momentos lhe fizeram muito bem. Tinha 65 anos, mas demonstrou vibração e vitalidade.
Hoje, quem visita o Museu de Gonzagão tem a grata surpresa de ver estampado em local de destaque, e entre dezenas de outros, o seu inestimável TITULO DE CIDADÃO VARZEALEGRENSE.
(HOMENAGEM DE VÁRZEA ALEGRE A LUIZ GONZAGA, SEU FILHO ADOTIVO)
Postado pelo saudoso Tibúrcio Bezerra Neto, em 11 de dezembro de 2020 no Facebook.
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