ATÉ QUANDO INVISIBILIZADOS ? ANTÔNIO LISBOA DE MORAIS JÚNIOR

 

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ATÉ QUANDO INVISIBILIZADOS ?

- Uma vez, acharam uns potes grandes (urnas funerárias indígenas) nas Panelas (sítio, uma das primeiras sesmarias registradas) e eles "era" muito mal feitos, meu "fi"!
Disse minha madrinha (em memória), balançando-se numa cadeira, vendo o tráfego do antigo posto Juremal.
Não é difícil entender porquê, em 2.022, o tradicional jornal estadual Diário do Nordeste erradamente ainda usou de "licença poética" ao noticiar - em pequena reportagem - a identificação dum novo cemitério indígena no Ceará; usando para isso novamente a infeliz construção:
"os índios /PASSARAM/ pelo Ceará."
O ser humano - quando apenas "passa" despretensiosamente em trânsito por um lugar qualquer - NÃO luta a guerra encarniçada de 25 anos que aconteceu no Ceará (houve estados que durou mais tempo) pelo domínio daquele território. Confirmando que ainda acontece hoje, só que de maneira velada, a perpetuidade com omissões e desinformação para o público leigo em geral e no ensino da sua verdadeira história infelizmente.
Dito isto, voltemos aos nossos ilustres patriarcas.
Lendo sobre Capitão Agostinho, um aspecto que sempre me intrigou foi a questão posta, desde os menestréis de meados do século XIX, de que o mesmo teve um "desgosto" e abandonou tudo depois de transcorridos 16 anos vivendo na grande Fazenda Lagoa; voltando para Portugal desanimado...
Erradamente, perdurou por muito tempo a narrativa de que aquele personagem não teria deixado descendentes no Brasil; na realidade, o mesmo teve 2 filhos de duas escravas indias e que, inclusive, deixou algumas léguas de terras para os mesmos na Várzea Alegre; apesar do Código das Ordenações Filipinas não reconhecer diretamente os direitos sucessórios destes naturais ilegítimos à terça parte; se realmente houve uma prescrição formal (só em termo de cessão das sesmarias talvez registrada no Arraial do Icó) isso aconteceria de direito. Ao ler a documentação primária, depreende-se como deveriam ser as divisões rígidas no státus social da nascente Capitania do Siará Grande; o estilo das petições formais dos poderosos geralmente começava assim:
"Eu (nome do fulano) vassalo fiel de Sua Magestade, cristão velho; não tendo sangue de negro, judeu, índio ou de nenhuma outra raça degenerada por costumes satânicos diluído em mim; venho prostrado aos pés de El Rey suplicar que ... ".
Já próximo de morrer, na década de 1.750, o Coronel do Reg. de Ordenanças D. Bernado Pinheiro juntamente com sua esposa - de nobilíssima família pernambucana & etc - eram inventariantes das antigas possessões de um outro irmão; desfazendo-se seguidamente destas.
Talvez, um dia, saberemos os nomes dos dois curumins filhos do seu irmão Agostinho; registros nos arquivos eclesiásticos do Iguatu ou do Icó devem de existir. Século depois - na época do romancista Alencar, idealizador da adaptação cearense do conceito do bom selvagem - foi substituído no censo do Império a categoria de /ÍNDIO/ a serem quantificados; passando a existir apenas a categoria de /CABOCLO/.
Quanto às relíquias achadas no Sítio Panelas?
Tenho certeza de que foram destruídos ao se abrirem por só haver ossos e não ouro dentro; pois a importância da arqueologia e da preservação do Patrimônio Antropológico ainda são incipientes hoje no Sertão; quando mais há 40 anos.
FONTES:
Jornal Diário do Nordeste;
Arquivo da Diocese d'O Porto;
Arquivos do Conselho do Ultramar;
Arquivos da Biblioteca Nacional no Rio;
Passado no Presente, "cordéis" do trovador Pedro "tenente";
Tese de Mestrado de Carlos Henrique Alves. UFF, 1.995;
Depoimentos de tia Alice Borges.
Postado inicialmente na página; O varzealegrense. (Facebook)

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