O BURACO DA RUA TOMÁS DE AQUINO - MARIA LUZIA GREGÓRIO OLIVEIRA



Imagem do Google

 O Buraco da Rua Tomás de Aquino

Lá pelos anos 70, eu era menina e morava em uma rua de Várzea Alegre que tinha um buraco enorme. Quem vinha das bandas do Iguatu mal o via, e perdi a conta de quantos carros passavam direto para dentro dele. Foram inúmeros acidentes. Por proteção divina, nunca morreu ninguém, mas os sustos eram grandes.
De madrugada, éramos acordados pelo barulho e pelo desespero das pessoas. Já caiu de tudo naquele buraco: caminhão de circo, carro com freira, caçadores que corriam atrás da caça... Uma vez, um senhor saiu gritando, só de cueca: "Tô vivo! Tô vivo!"
Era um drama constante, que alimentava longas conversas nas calçadas. Homens sem estudo projetavam pontes como engenheiros improvisados, enquanto as mulheres, preocupadas, revezavam-se em conselhos para manter as crianças longe do perigo.
Nós, por outro lado, brincávamos embaixo dos pés de mufumbo. Subíamos nos galhos finos com a agilidade de quem não tem medo da queda. Às vezes, alguém lembrava dos acidentes, e o receio vinha, mas logo passava: queríamos mais era brincar e viver nossa infância com toda a plenitude.
Foi nesse buraco que o circo do Guri montou sua lona. Guri, um palhaço no sentido mais puro da palavra, nos fazia rir com suas palhaçadas e chorar com sua voz emocionada ao cantar:
"Por que não para, relógio?"
Aquele buraco virou nosso portal para o mundo mágico do circo. As meninas do grupo iam para nossa casa, tomavam banho, comiam, e, em troca, tínhamos entrada livre. Não perdíamos uma noite sequer.
Nos dias de chuva, descíamos pelo buraco escorregando na lama, como pequenos porcos enlameados. Tudo era motivo para sorrir, para viver cada instante com intensidade.
Depois veio o progresso, e o buraco deu lugar a uma avenida asfaltada. Os carros passaram a seguir direto para Farias Brito, sem mais acidentes, mas também sem a parada em nossa cidade. Antes, os viajantes tomavam café nos muitos estabelecimentos da época, saboreavam o doce de tijolo de leite de Domicilia, almoçavam uma galinha caipira com arroz, cuscuz e macarrão no hotel de Antônio Severo ou de Emília de Romão. Outros compravam panelas de barro na feira ou pão na padaria de Chico Padeiro.
A rotina era desconhecida; todo dia trazia uma nova história, um novo recomeço. O futuro parecia distante, e os sonhos eram acordados, não interrompidos pela queda de algum veículo no tão temido buraco da rua Tomás de Aquino.
Dedico essas lembranças aos sobreviventes daqueles sustos e aventuras: a família de Filinto, a família de Geraldo de Caldas, de Zezinho Leandro, Chico Luiz, Raimundo Gibão, Dona Lousa, Zé Guedes, José Dias, Lázaro, Tiquinha, Toinha, Luiza de Zé Alexandre, Edival, Dona Anita, Fransquinha, Zilma e Seu Valdecir.
E para aqueles que já se foram, deixo minhas preces
Luzia.
Festa na Radio cultura
Aniversario de pai
Luiz David sentado
Mae ,Elvira, Ismênia,Raimundinha Fátima,Cesar,
Pode ser uma imagem de 4 pessoas e pessoas sorrindo
Todas as reações:
Valdoester Leandro, Francisco Gonçalves de Oliveira e 1 outra pessoa

Comentários

AO ACESSAR ESTE BLOG VOCÊ TENHA O PRAZER DE SE DEPARAR COM AS COISAS BOAS DA NOSSA TERRA! OBRIGADO E VOLTE SEMPRE!