As Origens do Sertanejo Nordestino



 As Origens do Sertanejo Nordestino

A formação do povo brasileiro, desde o século XVI, teve como característica primordial o intersecção de portugueses, índios e africanos. Esses brasileiros, ao longo da colonização fixaram-se no litoral e, posteriormente, penetraram nos chamados sertões.
Entende-se por sertão, as porções de terra que ficavam longe do litoral, muitas vezes
considerado local inóspito, com solo impróprio para a produção de cana-de-açúcar e pouco
habitado. Os portugueses inicialmente se fixaram no litoral mas, ainda no século XVI,
realizaram expedições que adentravam o território, inicialmente através dos rios, sobretudo, o São Francisco, para procurar metais preciosos e aprisionar índios.
Após a expulsão dos holandeses e o receio de que índios a eles vinculados e que fugiram para o sertão os ajudassem a retomar Pernambuco, a migração foi incentivada pela Coroa Portuguesa através de missionários e da doação de sesmarias, principalmente para a criação de gado “no curso do São Francisco e dos seus afluentes”
Sertanejo passou a designar populações coloniais que habitavam territórios relativamente afastados da orla atlântica. O termo não assinalava então um tipo cultural ou regional específico. Assim, a significação do termo remetia, precisamente, a uma determinação geográfica.
A expressão derivava – sertão – remetia então a um lócus inexplorado ou pouco conhecido, habitando pelo gentio, por quilombolas ou renegados.
É certo que já em meados do século XVII verificava-se a ocupação dos sertões do médio São Francisco. Contudo, a ocupação dessa região era pouco expressiva no contexto da América portuguesa – pelo menos até o final do seiscentos. Se, porém, o sertanejo ainda não é uma realidade referencial, dada sua limitada expressividade ocupação das zonas interiores, o “bandeirante” o era. Ele define o colonizador, o desbravador que, infiltrando-se no sertão, apressando índios, buscando ouro, destruindo quilombos e tribos refratárias à ocupação de zonas contíguas ou relativamente próximas ao litoral, alargava a
espacialidade do mundo colonial.
Enfim, é o cristão que ousa adentrar-se no mundo das selvas, dos desertos humanos: do espaço ainda não conectado à dinâmica colonial português.
No século XVII, a figura mítica do sertanista tinha seu protótipo na figura dos paulistas. Eram eles que enfrentavam os desafios e a intempéries do sertão, dilatando a territorialidade e, em certa medida, garantindo a segurança da empresa colonial portuguesa
o sertanejo é visto por Koster (1817) como calado e sisudo, mas que gosta de conservar sobre o seu cotidiano. A esposa é um dos assuntos do sertanejo, mas semelhante ao litoral, as mesmas vivem voltadas para os afazeres domésticos e comportar-se de maneira recatada, afirmando o autor que a “raramente aparece, e se é vista não toma parte na conversação”, e quando se apresenta “acocora-se na soleira da porta que leva ao interior da casa, e aí fica, limitando-se a escutar”.
Na caracterização do sertanejo, Benício aponta a formação étnica mestiça relacionando-a com aspectos morais, sendo os sertanejos formados pelo “preto crioulo, o africano quarentão, o curiboca bronzeado, o mameluco, o mulato, o branco, enfim toda a casta de cabra descendente de raças puras e raças cruzadas e mestiças, confundia-se ali sem
hierarchia moral”
Descreve também o fanatismo religioso do sertanejo, descrevendo-os como “ignorante” e enraizados “nos velhos hábitos da
administração de então, desconfiado como são todos os sertanejos, de índole conservadora por nascença, achava que toda a reforma na administração e toda inovação na economia publica
eram um meio de roubar ao povo”
Apesar de apontar características
pouco apreciadas no sertanejo, Benício o apresenta como um homem íntegro e apegado as
suas convicções.
Sobre a descrição da formação étnica do sertanejo, Euclides da Cunha apresenta uma maior discussão a respeito de sua formação, afirmando que
“teoricamente ele seria o pardo, para que convergem os cruzamentos sucessivos do mulato, do curiboca e do cafuz”.
Cunha, ao longo de páginas, descreve a formação do povo brasileiro, ao longo de séculos, fruto de portugueses mestiços que intensificaram a mestiçagem com os silvícolas e com os africanos. A descrição do vaqueiro, realizada pelo autor, demonstra o misto das raças, formando um homem forte, que suporta as adversidades do meio em que vive:
"Veio consequente o cruzamento inevitável. E despontou logo uma raça de curibocas
puros quase sem mesclas de sangue africano, facilmente denunciada, hoje, pelo tipo
normal daqueles sertanejos. Nasciam de uma amplexo feroz de vitoriosos e vencidos. Criaram-se em uma sociedade revolta e aventurosa sobre a terra farta; e
tiveram; ampliando os seus atributos ancestrais, uma rude escola de força e
coragem [...].
E ali estão as suas vestes características, os seus hábitos antigos, o seu estranho
aferro as tradições mais remotas, o seu sentimento religioso levado até o fanatismo, e o seu exagerado ponto de honra, e o seu folclore belíssimo de rimas em três
séculos [...].
Raça forte e antiga, de caracteres definidos e imutáveis mesmo nas maiores crises, oriunda de elementos convergentes de todos os pontos, porém diversa das demais deste país, ela é inegavelmente um expressivo exemplo de quanto importam as
reações do meio” fonte: O SERTANEJO DAS PROVÍNCIAS DO NORTE DO IMPÉRIO NA LITERATURA E. NAS CRÔNICAS DE VIAGEM DO SÉCULO XIX. SURA SOUZA CARMO
Imagens: Certanejo or Cattle Driver Charles Landseer, 1817/Matuto de Pernambuco. James Henderson, 1821/Vaqueiros (que usam trajes de couro) a capturar um boi bravo, Maximilian zu Wied-Neuwied, 1817. Sertanejas do Ceará . José Carvalho dos Reis, 1859/ Vaqueiro montado num boi. Ilustração da viagem do príncipe Maxiliano de Wied-Neuwied ao Brasil de 1815 a 1817




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