A MORTE DE UM “MOURÃO” – NOITE DE NATAL (DE 1830) NA MATRIZ DE SÃO GONÇALO DA SERRA DOS COCOS, PROVÍNCIA DO CEARÁ - Por João Bosco Gaspar



 A MORTE DE UM “MOURÃO” – NOITE DE NATAL (DE 1830) NA MATRIZ DE SÃO GONÇALO DA SERRA DOS COCOS, PROVÍNCIA DO CEARÁ:

“O sangrento episódio do dia de Natal na Matriz de São Gonçalo (...). Vicente [da Caminhadeira], a despeito das advertências, fora a São Gonçalo, quartel-general de Antônio Mourão, passar a festa de Natal. A povoação estava entupida, naquele dia, da gente dos Mourões, que atroavam os seus bocas-de-sino e as suas ronqueiras em saudação ao nascimento do Menino Jesus. E, vez por outra, já queimado na cachaça e para não perder o hábito, mandavam um e outro para o "Reino da Glória", descansar de vez dos sofrimentos da terra... Vicente lá estava, em companhia do seu fiel Belchior e outro companheiro, tocando a sua viola e cantando para o povo que ia vê-lo na casa onde se hospedara. Em toda parte da Vila ouviam-se as melodias dos pífanos e tambores de couros, expressando o regozijo geral. No adro da Matriz de São Gonçalo espoucavam os tiros de ronqueiras. Belchior, sempre visado pelos Mourões, apanha e põe o capote de Vicente e sai escondido debaixo dele para a rua. Vicente, cercado de pessoas, tocava e cantava. De repente, ouvem-se tiros. Belchior vem correndo na direção do grupo que o patrão divertia, gritando, todo ensanguentado: “Meu amo, Senhor Vicente Lopes, acuda-me que me mataram!” Vicente larga a viola e apanha incontinente o "Canário". Um homem, nessa ocasião, atravessa a rua a distância. Vicente desconfia, faz pontaria no desconhecido. Era ele, Manoel de Ferros Mourão, irmão do Cabano [Alexandre Mourão], que a Vicente lamenta o ocorrido. Era amigo de Manelzinho Mourão, não o reconhecera quando atirara nele. Estava cego de ódio pela morte do fiel Belchior. Mataria ''a quantos aparecessem", confessou. Desse dia em diante os Mourões juraram que matariam aquele homem feiticeiro, aquele bicho encantado, Vicente da Caminhadeira, onde quer que o encontrassem: as ladeiras da Serra Grande estavam ali para isso mesmo, excelentes locais para emboscadas e tiroteios. . .”.

Fonte: Trecho do livro “O Bacamarte dos Mourões”, de Nertan Macedo, p. 86/87. Foto: Igreja Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos, Ipueiras-CE, nos dias atuais.
Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

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