A Lenda do Vale das Cobras
No coração árido do sertão, próximo ao temido Raso da Catarina, existia um lugar que inspirava terror até nos mais valentes cangaceiros e nos implacáveis volantes: o Vale das Cobras. Nem mesmo Lampião, o rei do cangaço, ou o mais temido dos policiais, ousava se aproximar daquela região amaldiçoada. A proximidade com o Raso da Catarina, palco de tantas emboscadas e confrontos, não diminuía o medo que o Vale inspirava; ao contrário, amplificava-o, transformando-o em uma lenda sombria. Não eram cobras comuns que habitavam aquele vale. Eram criaturas de sombras, mestras da dissimulação, capazes de se fundir à paisagem seca, tornando-se invisíveis aos olhos mais experientes. Aqueles que, por desafio ou descuido, ousavam adentrar o Vale, raramente voltavam. As histórias contadas ao redor das fogueiras falavam de homens corajosos, que desafiaram a maldição, apenas para serem encontrados horas depois, retorcendo-se em agonia, enquanto as cobras, esguias e rápidas, desapareciam entre os arbustos, deixando para trás apenas o silêncio mortal. A lenda conta que as cobras não eram répteis nascidos da terra, mas sim almas amaldiçoadas de pessoas que em vida se entregaram à maldade com prazer sádico. Seus corações, endurecidos pelo ódio, inveja e pela crueldade, foram transformados em veneno mortal após a morte. Condenadas a rastejar pela eternidade, essas almas perversas assumiram a forma de serpentes, suas picadas carregando não apenas o veneno físico, mas também a maldição de uma agonia lenta e torturante. A morte chegava lentamente, acompanhada de visões horríficas e arrepios que congelavam a alma. Dizem que, nos momentos finais, a vítima conseguia ver, através da névoa da agonia, os rostos das pessoas que havia prejudicado em vida, seus olhos cheios de culpa e sofrimento. Passaram-se décadas desde o fim do cangaço; há muito tempo os ossos de Lampião e Corisco haviam se transformado em pó, mas a lenda do Vale das Cobras persiste, um aviso sombrio próximo ao Raso da Catarina. A região permanece isolada, um local de silêncio e mistério. As cobras, dizem, continuam lá, guardando o segredo de suas vítimas e perpetuando a justiça implacável do além. Elas não se espalham, não se reproduzem além daquelas fronteiras de pedras e arbustos, amaldiçoadas, como se o próprio Vale fosse uma prisão eterna, um castigo justo para aqueles que, em vida, escolheram o caminho da maldade. A lenda serve como um aviso, um eco sombrio que lembra a todos que a justiça, de uma forma ou de outra, sempre encontra seu caminho.
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