Fato o qual é contado no livro Milagres e previsões de Padre Cícero, do meu pai, Zeca Marques, cuja transcrição segue abaixo:
O senhor João Farias de Melo, cidadão de caráter, pai do senhor Geraldo Farias de Melo, respeitado comerciante de joias em nossa cidade, contou-me que na Zona da Mata, no Estado de Alagoas, no ano de 1916, morava um proprietário de terra. Na frente de sua residência, na beira da estrada, tinha uma grande árvore frondosa onde os passageiros debaixo dela descansavam e pernoitavam. Chegaram dois romeiros que viajavam para Juazeiro a fim visitar o Padre Cícero. Depois que eles fizeram sua primeira refeição (rapadura com farinha) e descansaram, foram à casa-grande pedir água para abastecer sua cabaça e prosseguir viagem. Chegando lá, cumprimentaram o dono da casa e pediram a água desejada. O dono da casa perguntou se eles eram viajantes ou andavam procurando trabalho. "Não, respondeu um deles, nós somos romeiros e vamos pra Juazeiro visitar nosso Padrim Cícero".
"Nosso, não", respondeu o dono da casa, eu não sou afilhado e nem conhecido de protetor de cangaceiro. Vá pedir a seu padrim".
"Sim senhor, eu vou mesmo, ele é quem tem água pra dá a todos nos", concluiu o ro-meiro.
"Pois então", disse o dono da casa, metendo a mão no bolso e tirando um tostão (100 reis), "se ele tem água pra dá, diga a seu padrinho que mande um tostão de chuva pra encher o meu açude".
"Sim senhor, respondeu o o romeiro,eu entrego e dou também o seu recado".
Quando os dois romeiros chegaram em Juazeiro, ficaram no rancho de Lourencinho. No dia seguinte, Lourencinho levou os dois à presença do Padre Cícero. Os dois romeiros pediram bênção, apresentaram as imagens para serem bentas entregaram algumas cartas de seus familiares e conhecidos. Depois de uma pausa o Padre Cícero perguntou ao romeiro:
"Você não está esquecido de mais alguma coisa?"
“Não, meu padrim, é que eu queria entregar uma encomenda, em reservado".
"Nao", respondeu o Padre Cícero faça a entrega agora mesmo".
"Pois bem, eu e meu companheiro fomos pedir água para encher nossa cabaça de via-gem e o dono da casa disse que não dava água a quem não tem o que fazer; e disse mais: vá pedir água a seu padrim e ate chamou meu padrim de protetor de cangaceiro. Eu respondi a ele: "Eu vou mesmo, só ele é quem tem água pra dá a todos nós. Então ele mandou esse tostão para o senhor mandar chuva para encher o açude dele".
"O senhor Antônio", disse o Padre Cícero, metendo a mão no bolso da batina, é “um menino grande” (os dois romeiros ficaram admirados, porque até então não sabiam ainda o nome do homem da casa-grande). Padre Cícero tirou três vinténs e deu ao portador, e recomendou: "Entregue ao senhor Antônio e diga a ele que bastam dois vinténs de chuva".
De volta quando os dois romeiros pisaram nas terras do senhor Antônio, notaram que ali havia dado uma grande chuva. Chegando a casa-grande foram recebidos pela dona da casa e disseram a ela:
"Eu quero entregar uma encomenda e dá um recado a seu marido que meu padrim Cícero do Juazeiro mandou".
"Eu recebo", disse a dona de casa, Antônio está muito nervoso e arrependido de ter zombado do Padre Cícero. A chuva que deu aqui foi tão grande, que além de arrombar a parede do açude, fez muito estrago. Estamos de viagem marcada. Vamos pra Juazeiro se confessar com o Padre Cícero".
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