MARIA DEGOLADA (De Assombração para "Santa")

 


MARIA DEGOLADA

(De Assombração para "Santa")
De início, uma figura fantasmagórica de mulher assombrava a Favela da Vila da Conceição, na Porto Alegre-RS do final do século XIX (1899).
Inúmeros foram os relatos, na época, da aparição de uma mulher, vestida de branco, próxima da árvore onde teria sido degolada e morta.
Às vezes, aparecia como um espírito revoltado e cheio de ódio. Outras vezes, circulava pelas vielas da favela à noite, pretendendo levar alguém até o local onde ela foi morta.
Até que um dia, uma jovem ao invés de se assustar e fugir, permaneceu diante daquele fantasma, pedindo que a levasse.
Surpreendida, a suposta Maria Degolada quis saber "por quê". A jovem disse que queria morrer, porque estava grávida do padrasto e não podia contar à sua mãe. Então o espírito disse à jovem que lhe ajudaria.
No dia seguinte, surgiu um rapaz que se apaixonou pela jovem, assumindo a gravidez e o filho. O padrasto morreu, dias depois, num acidente.
À partir daí, as mulheres da Vila passaram à rogar por Maria Degolada, que passou a ser chamada de "Maria da Conceição".
Foram feitos muitos relatos de graças alcançadas, através de Maria Degolada, e uma gruta foi levantada à ela. Desde então, não se ouviu mais relatos de assombrações na localidade.
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Maria Francelina Trenes, nascida na Alemanha, em 1878, e assassinada em Porto Alegre, em 12 de novembro de 1899.
Mais conhecida como "Maria Degolada", é uma figura que faz parte da História de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e centro de "cultos populares".
O que consta nos autos do processo judicial, subseqüente ao seu assassinato, é que tinha origem alemã e ganhava a vida como prostituta. Residia no Centro da Capital, mas passou a morar com o namorado, próximo ao quartel da Brigada Militar, na localidade denominada de "Vila Junção".
Declara-se que, em 12 de novembro de 1899, um domingo, ela e o namorado, um soldado da Brigada Militar, chamado Bruno Soares Bicudo, estavam fazendo um piquenique com amigos no Morro do Hospício – nas proximidades do "Hospital Psiquiátrico São Pedro", atualmente bairro Partenon, Porto Alegre.
À certa altura, o casal se afastou dos outros e começaram a discutir. Maria atacou o namorado com um pedaço de lenha e depois com um cano de ferro. Bicudo revidou, cortando o pescoço de Maria com uma faca, causando-lhe a morte e dando origem ao seu apelido.
O assassinato ganhou grande destaque na imprensa e, pela sua brutalidade, causou horror na população. O soldado foi preso e condenado. Circularam várias versões sobre o caso, mas logo os locais passaram a venerá-la.
No local onde foi morta, foi erguida uma pequena capela em sua homenagem, identificando-a como "Nossa Senhora da Conceição" e, por isso, sendo também chamada de Maria da Conceição – mas que não deve ser confundida com Maria Mãe de Jesus que, em Portugal, foi denominada como "Maria da Concepção", por conceber à luz o Menino Jesus, sem alterar a virgindade.
A localidade, então, foi rebatizada de "Vila da Conceição", a maior favela de Porto Alegre na época.
A passagem, de prostituta à santa, não é inédita na tradição Católica e, segundo o antropólogo José Carlos Pereira, "Maria Degolada faz parte do grupo das chamadas 'santas de cemitério', que corresponde, na maioria dos casos, à alguém que sofreu morte violenta, seja por acidente, assassinato ou tortura seguida de morte".
Para a historiadora Sandra Pesavento, "ao ser morta, ela até pôde virar 'santa', pois foi uma vítima, mártir de um mestiço analfabeto e mal encarado, personificando o drama de uma realidade de excluídos, da qual ambos faziam parte, de uma Porto Alegre muito violenta na época".
A transformação para 'santa', foi reforçada pela crença de muitos populares, de que Maria Degolada, na verdade, nunca foi uma prostituta, mas uma moça de família. Seus devotos a consideram uma santa milagrosa até hoje.
O folclore que a cercou desde o início, continuou em desenvolvimento e novas versões sobre seu assassinato continuaram a surgir, acrescentando muitos detalhes fantasiosos sobre sua vida.
Ao mesmo tempo, sendo morta por um policial militar, ela se tornou um símbolo de resistência contra a exclusão social e a opressão do poder público, numa comunidade pobre, que se autodefinia como "periférica" e "marginal".
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Fonte: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, da obra "Maria Degolada: Mito ou Realidade" (1998). Adaptação e pesquisa: Sérgio Gitel.

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