Malandros X Trabalhadores

   Durante os 15 anos do Governo Vargas, o rádio tornou-se cada vez mais popular.Um gênero musical  especial se difundiu: o samba. Manisfestação da cultura popular, esse gênero musical foi alvo de atenções especiais , principalmente por parte do Departamento De Imprensa e Propaganda, visto  ao mesmo tempo como ameaça  e como instrumento possível para a construção da identidade nacional. no trecho do livro citado abaixo, o autor analisa essa questão a partir do conflito entre a imagem do malandro e a imagem do trabalhador.
   Há um bom ponto de partida para analisar a cultura brasileira no Estado Novo: um projeto de disciplinarização do brasileiro  através do samba  que, ensaiado no início dos anos 1930, ganhou um impulso decisivo a partir dos anos 1940, com a organização do Departamento de Imprensa e propaganda (DIP).
   Produzido entre as camadas mais populares, e e negras, da sociedade carioca, o samba foi visto, desde o seu nascimento, com muita desconfiança pelas elites e autoridades brasileiras .Não só o samba, mas também outros ritmos da música popular eram percebidos como manifestações de grupos avessos 'as regras da civilização e do trabalho, constituindo-se o ato de tocar violão num atestado de vadiagem.
   Com a intensificação do processo de urbanização do Rio de Janeiro, entre o final da década de 1920 e o início dos anos 1930, as populações recém-chegadas do campo encontravam imensas dificuldades em se adaptar a cidade.(...)
   Com a revolução de 30, o Estado liderado por Getúlio Vargas adotou uma nova postura com relação  a chamada "questão social". Abandonada pelo Estado a própria sorte e cortejada por agremiações políticas de esquerda e de direita , a grande massa de trabalhadores urbanos constituía uma grave ameaça para a manutenção da ordem, abalada por greves e manifestações que, em consequência das perdas salariais e do desemprego determinados pela crise de 1929, pareciam crescer sem nenhum controle. Com a criação do Ministério do Trabalho, em novembro de 1930, Getúlio Vargas procurou amenizar esse cenário de grande mobilização social, conferindo ao Estado um papel de juiz nas disputas entre patrões e empregados .
   O reconhecimento de alguns direitos dos operários pelo Ministério do Trabalho, no entanto, pouco contribuiu para a melhora das condições sociais dos trabalhadores. As dificuldade dessa população que trabalhava duro, sem receber uma justa remuneração pelo seu trabalho, acabaria se constituindo em tema de uma série bastante significativa de sambas que procuraram exaltar a figura do malandro: um tipo que preferia dedicar-se a bicos, e pequenos furtos e exploração de mulheres, evitando entregar-se ao trabalho pesado, que via de regra , só trazia benefícios aos patrões.
   Wilson Batista,destacou-se como um dos sambistas mais afeitos ao tema, exaltando a malandragem em sabas como Lenço no pescoço.Gravada pela primeira vez em 1933, essa canção compara dois tipos da sociedade carioca do período: o malandro e o trabalhador. Enquanto o primeiro é descrito em detalhes, desafiando a sociedade com suas roupas , seu gingado e sua navalha, o segundo se apresenta com uma única característica evidente: sua miséria.
(...) Através de concursos, censura e outras estratégias de cooptação de músicos coordenados pelo DIP, as autoridades do Estado Novo procuraram incentivar os sambistas a mudar o tema de suas composições . Nem mesmo Wilson Batista, autor de lenço no pescoço, conseguiria resistir ao cerco dos burocratas do regime de Vargas. (...) Em O bonde São Januário, parceria com Ataulfo Alves, de 1940, Wilson Batista voltaria a exaltar as virtudes do trabalhador, desta vez numa perspectiva mais otimista.
   Em O bonde São Januário, Wilson Batista faz uma espécie de mea culpa sobre a exaltação do malandro de seus sambas anteriores. O malandro do morro, fã da boemia e avesso ao trabalho, de Lenço No pescoço, transformava-se numa espécie de "operário padrão", tornando-se um homem "feliz", com o futuro garantido através do trabalho. (Adaptado de Cláudio Aguiar Almeida- Cultura e Sociedade no Brasil (1940-1968) São Paulo - Atual- 1996- p. 8, 9 e 12)

                                           Wilson Batista - Lenço no pescoço- youtube

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