Renascimento - Paulo Mendes Campos


Mais fria do que o sono do meu túmulo
É minha soledade, quando cúmulo
Da carícia mortal se esvai, essência.
Vértice perigoso da inocência,
Entrega-me a manhã seu cemitério,
Quando, extintas espadas, sigo sério
Sorrindo para quem foi num momento
Chama que se desfez nas mãos do vento,
Belo animal que foge ternamente
E em lento movimento está presente
Nos círculos que pensam no meu ser.
Descobre-me a luz crua do prazer
E a sombra do langor se arrasta lenta
No sulcos de meu rosto; se ela tenta,
Beijando-me, apagar a minha face,
Onde o seu lábio vai, a voz renasce,
Nítida, calma, quase com tristeza.
A escuridão despede-se, e a certeza
De um deus fere a vidraça, verdes chamas,
Labaredas do céu, fogo nas ramas
De uma roseira que sobe à janela.
Depois, se o sol maduro se rebela
No mar, sobre as espumas, nós, constantes
Da memória das vagas inconstantes
Vamos colher a flor do tempo. Ausentes
Nos beijamos, tranquilos, transparentes.



Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte,28 de fevereiro de 1922 - Rio de Janeiro 1 de julho de 1991) - Além de poeta, foi cronista, jornalista e tradutor. Publicou em poesia: 'A Palavra Escrita', 'Testamento do Brasil' e 'O Domingo Azul do Mar'. Destacou-se nas crônicas, que, ao lado de Rubem Braga, Fernando Sabino e outros, mudaram a maneira de fazer crônicas no Brasil. Diversos livros com reuniões de suas crônicas como 'O Cego de Ipanema', 'Os bares morrem numa quarta feira', foram republicados.

 Foto: Renascimento - Paulo Mendes Campos
Mais fria do que o sono do meu túmulo 
É minha soledade, quando cúmulo 
Da carícia mortal se esvai, essência. 
Vértice perigoso da inocência, 
Entrega-me a manhã seu cemitério, 
Quando, extintas espadas, sigo sério 
Sorrindo para quem foi num momento 
Chama que se desfez nas mãos do vento, 
Belo animal que foge ternamente 
E em lento movimento está presente 
Nos círculos que pensam no meu ser. 
Descobre-me a luz crua do prazer 
E a sombra do langor se arrasta lenta 
No sulcos de meu rosto; se ela tenta, 
Beijando-me, apagar a minha face, 
Onde o seu lábio vai, a voz renasce, 
Nítida, calma, quase com tristeza. 
A escuridão despede-se, e a certeza 
De um deus fere a vidraça, verdes chamas, 
Labaredas do céu, fogo nas ramas 
De uma roseira que sobe à janela. 
Depois, se o sol maduro se rebela 
No mar, sobre as espumas, nós, constantes 
Da memória das vagas inconstantes 
Vamos colher a flor do tempo. Ausentes 
Nos beijamos, tranquilos, transparentes.

 

Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte,28 de fevereiro de 1922 - Rio de Janeiro 1 de julho de 1991) - Além de poeta, foi cronista, jornalista e tradutor. Publicou em poesia: 'A Palavra Escrita', 'Testamento do Brasil' e 'O Domingo Azul do Mar'. Destacou-se nas crônicas, que, ao lado de Rubem Braga, Fernando Sabino e outros, mudaram a maneira de fazer crônicas no Brasil. Diversos livros com reuniões de suas crônicas como 'O Cego de Ipanema', 'Os bares morrem numa quarta feira', foram republicados.

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