As vinganças de Antônio Silvino

Outro caso envolvendo Antônio Silvino não está ligado diretamente a Macapá, mas a um parente de Fernando Moraes, o fazendeiro e comerciante Joaquim Tavares Vieira de Melo.Ele era conhecido na família Leitão como “Quincas Tavares” ou “Tio Quinca”, a quem a mãe do nosso biografado, Izabel de Andrade Melo, muitas vezes mandou Fernando Moraes e seus irmãos pedirem a bênção. Fernando lembra-se dele como sendo um homem alto e forte.Joaquim casou em 25 de novembro de 1886 com Leonor Ferreira Gomes de Andrade. Era tido como um homem de grande poder aquisitivo e possuía uma imponente casa numa localidade conhecida como Poço Comprido, onde exercia liderança política.Ao lado do casarão ficava seu armazém, com farto sortimento de Mercadorias[2].Quincas Tavares tinha, em casa, um verdadeiro arsenal de rifles e farta munição. Um dia, estava limpando sua coleção, quando uma pessoa passou e lhe indagou qual era o motivo de possuir tantas armas. Certamente confiando no potencial bélico do qual dispunha, proclamou, aos quatro cantos, que “ali Antônio Silvino não teria vez”.Segundo o pesquisador Sérgio Augusto de Souza Dantas, no livro “Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito” (Natal: Editora Cartgraf, 2006, p. 126-128), em 29 de março de 1908, sem nenhum aviso, Silvino chegou a Poço Comprido para tomar satisfações com Joaquim.
Visão atual do Distrito de Pirauá – Foto – Rostand Medeiros
Surpreendido, o comerciante clamou pela vida. O chefe cangaceiro declarou que Joaquim estava preso e que sua liberdade custaria muito caro. Foi quando o detido se lembrou do comerciante e amigo Gonçalo José de Medeiros, que morava no povoado de Pirauá, já na fronteira com a Paraíba, argumentando com Antônio Silvino que certamente seu camarada teria condições de pagar pelo resgate.Antes de seguir para Pirauá, o armazém de Quincas Tavares foi saqueado, suas armas e munições foram tomadas e muitos mantimentos foram espalhados na principal rua do lugarejo para que fossem recolhidos pelos mais pobres.
Casa do major Gonçalo José de Medeiros, em Pirauá, na fronteira entre Pernambuco e Paraíba, para onde Antônio Silvino e seu bando levaram Joaquim Tavares Vieira de Melo como refém. Foto – Rostand Medeiros
Em Pirauá, Major Gonçalo, como era conhecido o mais importante comerciante local, disse a Silvino que possuía apenas duzentos mil réis e que daria todo aquele dinheiro para que seu amigo fosse solto pelo bando. Antônio Silvino, irritado com o baixo valor oferecido pelo prisioneiro, respondeu que a liberdade de Joaquim valia dois contos de réis.
Diante do impasse, o chefe cangaceiro decidiu partir pela estrada que segue para a região do Sítio Gitó, já na Paraíba. Segundo uma das versões da história, Silvino iria levar seu prisioneiro para ser morto embaixo de uma frondosa cajazeira que ficava à beira da estrada.
Apesar das ameaças, o experiente cangaceiro percebeu que matar aquele homem não lhe traria nada de valor, além de problemas e perseguições. O melhor era receber os duzentos mil réis do
Major Gonçalo e evitar mais essa morte nas suas costas.
Ameaçou, então, um camponês que passava, exigindo que ele trouxesse o dinheiro que o comerciante de Pirauá havia oferecido em troca da vida de Joaquim.
Depois de receber e contar as notas, soltou seu prisioneiro.
Quase um ano depois do ataque a Macapá, Antônio Silvino e seu bando fariam um assalto a um engenho cujo proprietário era uma pessoa ligada a membros da família Moraes.
O fazendeiro Manoel Inácio de Andrade Lima. Fonte: Arquivo de José Inácio Moraes Andrade
Manoel Inácio de Andrade Lima era o senhor do Engenho Mirador, próximo à cidade de Bom Jardim, Pernambuco. Era uma terra poderosa, rica, com grandes áreas de plantações de cana-de-açúcar.
O motivo da visita do chefe cangaceiro seria uma vingança.
Em uma ocasião anterior, Silvino havia mandado um mensageiro pedir dinheiro ao dono do Engenho Mirador. Era uma das famosas solicitações de Antônio Silvino, que descaradamente alegava que não podia trabalhar por causa da perseguição do governo à sua pessoa. Então, argumentava que, como não queria roubar, apenas “pedia aos amigos”.
Manoel Inácio se recusou a atender não apenas a este, mas a vários outros pedidos feitos pelo cangaceiro. O problema era que o bandido não se esquecia dessas negativas e, quando tinha oportunidade, saía para cobrar o que havia pedido ou para gerar um prejuízo de grande porte.
Antônio Silvino, movido pela vingança, mandou seus cangaceiros abaterem a tiros de rifle todo o gado do Mirador e destruírem a casa-grande do engenho, principalmente seus móveis. Antes de deixar o local, gritou para os moradores: “Não é para aproveitar nem o couro dos bichos mortos!”.
O prejuízo – associado ao trauma do ataque dos cangaceiros – foi tão intenso que Manoel Inácio de Andrade Lima decidiu vender o Engenho Mirador e se mudar para uma propriedade próxima ao povoado de Poço Comprido. Começou a plantar outras culturas agrícolas, mas não prosperou. Então, vendeu a gleba e arrendou o Engenho Paquevira, nos arredores de Macapá, que pertencia à Senhora Maria Borba, mãe do futuro governador pernambucano Manuel Borba.
Xilogravura com a figura de Antônio Silvino
Somente dez anos depois do ataque de Antônio Silvino, o fazendeiro Manoel Inácio pôde se recuperar financeiramente. Ele comentava com seus descendentes que “valia mais a pena ser arrendatário plantando cana-de-açúcar do que ser proprietário de uma terra e plantar outras culturas”[3].
Fonte; http://tokdehistoria.com.br/2012/06/26/o-cangaceiro-antonio-silvino-na-serra-dos-canaviais-um-dos-capitulos-do-meu-no-livro/

Comentários

AO ACESSAR ESTE BLOG VOCÊ TENHA O PRAZER DE SE DEPARAR COM AS COISAS BOAS DA NOSSA TERRA! OBRIGADO E VOLTE SEMPRE!