O
Padre Cícero Romão Batista: Religião, História e Geografia.
[...]
Por. FEITOSA COLÔ
*Brevemente: continuação desta postagem.
Por: Prof. Feitosa Colô
1. Religião e História.
Quando se fala em Padre Cícero Romão
Batista, logo, surgem pelo menos dois pensamentos imagéticos daquele homem.
O primeiro pensamento sobrevém de um
ser carismático, acolhedor dos pequeninos, pois era assim que o nobre reverendo
se referia aos menos favorecidos e desvalidos. E era com a mesma compaixão, que
o mesmo sacerdote atendia os perturbados de espíritos e aconselhava criminosos
(Jagunços e cangaceiros) para um retrospecto de mudança de vida.
O segundo pensamento, é ainda daquele
homem mal interpretado por alguns, em virtude do apartamento entre religião e
ciência, um modo concorrente para o não entendimento da singularidade do ser
crente, temente e obediente ao Cristo ressuscitado. Não obstante, ainda se
apregoam termos impróprios aquele bom pastor, do qual, a mesma humanidade, espera
de seu semelhante, e nega-o quando tem.
Estudar o Padre Cícero não é fácil, e se
torna mais difícil ainda quando o pesquisador não percebe ou quando não se quer
perceber a grandeza e a singularidade deste esmero sertanejo, reto, corajoso,
inteligente e santo.
A sua simplicidade, humildade e o
poder de sua caridade, talvez tenha sido o suficiente para que o filho do
divino lhe aparecesse em sonho. Uma experiência única, o Cristo, o próprio, deu-lhe
a missão de cuidar daqueles filhos paupérrimos, extorquidos de seus direitos,
indivíduos esquálidos que entravam no mesmo ambiente do sonho, no qual se
encontravam o noviço Padre Cícero, Jesus Cristo e os doze.
O fato é que o Padre Cícero teve uma
experiência singular com o divino, uma experiência, também, vivenciada por
outros indivíduos sem consideração de tempo e espaço. Haja vista, relemos o capítulo e versículo do episódio
vivido pelos reis magos e de outros ícones da santidade ocorridos em tempos remotos. E por que
não acreditar no exemplo experimentado pelo patriarca de Juazeiro!
“Os
magos vindos do Oriente, após ter encontrado o menino Jesus e tê-lo adorado,
receberam um sonho da parte de Deus em que Deus lhes disse para não
tornarem a passar por Herodes (Mat. 2:12).
Independente de tempo e espaço, o Deus
é onipresente e onipotente, e Ele se fez em sonho em pleno final do século XIX
no Estado do Ceará ao padrinho dos romeiros pobres e desvalidos do Nordeste
brasileiro. Uma cena real do pendor do descaso, de fome e miséria apresentadas
nas faces e corpos esquálidos de homens, mulheres e crianças. Uma cena que iria
se realizar aonde os relutantes retirantes e mendicantes, oprimidos, que iriam
se dirigir ao Joazeiro a partir daquele momento intimo com o próprio Deus.
Ali, naquela sala de uma escola do
primitivo Sítio Joazeiro uma reunião sagrada se realizou cuja imagem projetada
eram dos homens oprimidos transfigurada nos rostos e corpos a ganância e
arrogância dos poderosos, então, o Coração de Jesus com muita dor, disse ao
padre daqueles pequeninos, desvalidos - “E
você, Padre Cícero, tome conta deles”.
Obedeceu à risca.
Daquele dia em diante, a preocupação
do santo padre foi de preparar a terra prometida, o Juazeiro. Logo depois aos
fatos, foi o reverendo se estabelecer definitivamente para transformar aquele
sítio no território dos e para os pobres encontrarem conforto para suas angústias
e comida para saciar sua fome.
A contento, e ainda num clima marcado
pelo centralismo da igreja católica, as ordens religiosas decidiram negar as
formas populares de crença e adoração ao sagrado.
O sonho do Padre Cícero e a crença no
milagre da hóstia acontecida a partir de 1889, protagonizada pela Beata Maria
de Araújo culminaram no exercício de uma religiosidade particular, do povo ou
popular. Um credo misto cujas raízes remetem às heranças da cultura medieval,
africana e indígena, entretanto, seus ritos incomodaram a Igreja.
A contento, o conluio episcopal compôs
uma peça adventícia e agravada pela própria igreja católica em negar o Padre
Cícero e a Beata Maria de Araújo, consoante de um pensamento egoísta e clerical
por via da ordem dos padres Lazaristas.
Na América Latina? No Brasil? Na
região Nordeste? Como Jesus iria se manifestar para alguém em um lugar periférico?
Estas eram as interrogações, descrentes, dos padres Lazaristas franceses carregados
da visão míope de uma igreja ainda fechada para um país recém-saído da condição
de colônia, por sinal, de exploração.
Aquele sonho com Cristo e os doze apóstolos
foi à forma de preparar o Padre Cícero ao que viria acontecer, posteriormente,
com o milagre eucarístico protagonizado através da Beata Maria de Araújo. O
sangue tem a representação da vida de Cristo em sua angustia, paixão e morte,
dores vista numa humanidade se destruindo, entretanto, coube ao patriarca
transformar o Joazeiro em um reduto de salvação pela oração, trabalho e
caridade.
Em, O Milagre de Juazeiro, Ralph Della
Cava, menciona toda injúria eclesiástica contra as pessoas de Pe. Cícero e da
Beata Maria de Araújo acerca dos Milagres Eucarísticos ocorridos a partir de
1889, ao citar: “Nosso Senhor não deixa a
França para obrar [3]milagre
no Brasil” (CAVA, p. 69. 1976). Percebe-se aqui uma conjuntura, negativa, que
se formou para desqualificar as verdades dos fatos.
Apesar de tudo ter ocorrido em tempo
pretérito, atualmente vem surgindo uma gama de estudiosos do tema, ora
analisado, cujos trabalhos canalizam o âmago sagrado dos fatos dando-o a
verdadeira conotação de verdade.
A parapsicóloga e pesquisadora Maria
do Carmo Pagan Forti baliza a Beata Maria de Araújo com a seguinte qualificação.
“Uma das qualidades mais patentes em
Maria de Araújo é a de estar constantemente na presença de Deus. E essa
presença é sentida em todos os níveis da sua experiência humana, seja nos
momentos de oração, seja nos momentos da vida cotidiana” (FORTI, p. 29.
2009). Teria o preconceito racial, social, econômico ou de espaço barrando a
aceitação do milagre e da fé inabalável do Padre Cícero e de Maria de Araújo por
parte da própria igreja católica? O que pesa aqui é a onipresença e a
onipotência divina negada pela própria igreja.
Será que os padres Lazaristas e o seu
chefe espiritual no Ceará, o então Reitor do Seminário da Prainha, Fortaleza,
Padre Chevalier desconheceria a história de Saulo, perseguidor de Judeus, para ser
um apóstolo de Jesus Cristo? Com certeza que não. E por que não acreditar em uma
experiência vivenciada por um nordestino de Crato, um humilde padre sertanejo e
uma mulher negra e pobre?
“27
Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus
escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; 28 E
Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são,
para aniquilar as que são; 29 Para que nenhuma carne se glorie
perante ele.”
1 Coríntios 1:27-29
O
exemplo marcante, mencionado acima, foi o contato de Deus com o homem, cujo
personagem Saulo, um demente soldado romano
perseguidor de Judeus, ou seja, a relação aconteceu entre Jesus Cristo e
um indíduo que aos olhos de um prejugamento não
era um ser merecedor de perdão ou de santidade, quiçá de um selo com o divino.
Porém, Deus escolhe as coisas vis para confundir as sábias.
Saulo, perseguidor, se tornou Paulo, o
apóstolo. Vejamos:
“Ao
meio-dia, ó rei, indo eu caminho fora, vi uma luz no céu, mais resplandecente
que o sol, que brilhou ao redor de mim e dos que iam comigo. E, caindo todos
nós por terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: Saulo, Saulo, por
que me persegues? Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões. Então, eu
perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem
tu persegues. Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te
apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me
viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos
gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres
das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam
eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em
mim.” Atos 26 : 13 – 18.
Apesar de a ciência ser egoísta,
sobressaltada em métodos de pesquisas materialistas, enxergaria a experiência
do Padre Cícero com Jesus Cristo assim como o milagre eucarístico, ocorridos a
partir de 1889 de impossível. A ciência pode ser descrente do poder de uma
divindade superior, de um Deus, que se manifesta através de um Ser em oculto, sobrenatural.
Porém, os resultados da primeira comissão investigativa foram conclusivos: Os fatos aqui ocorridos não tem explicação
científica.
Tais resultados e conclusões não foram
aceitos, sem uma justificativa óbvia, porém sobressaltada numa postura
ignorante alentada num escuso preconceito de raça e de Lugar concorreram para a
taxação dos fatos milagrosos como sendo um embuste.
Na ótica dos referidos métodos analíticos, o
palpável e o materialismo dos fatos investigados seriam os mais importantes.
– Então, se fizeram que não viram?
Viram, porém a igreja ignorou a materialidade dos fatos, legando-os a
destruição das provas e a coação de seus protagonistas, o Padre Cícero e a
Beata Maria de Araújo. Os exames das comissões, os panos manchados de sangue e
os fragmentos de carnes ensanguentadas saídas da boca da beata não foram
suficientes! Por que ainda se creem no embuste?
A negação dos resultados conclusivos
da primeira comissão científica e a oficialização do segundo laudo dos fatos de
Joazeiro é o que deturpam a santidade dos envolvidos deixando, com isso, a
pulverização de publicações sem nada de novo, apenas o eixo polêmico criado a
partir dos fatos políticos gerados.
Esta conotação satisfaz um público,
pois provoca o caos é mais chamativo, com relação aos estudantes, estes, são os
que pagaram mais caro, leigos, acabam absolvendo informações equivocadas postos
nos livros escolares. Exemplo: O padre embusteiro, arregimentador de fanáticos,
o padre coiteiro, o coronel de batina, além de outras terminologias injuriosas.
A priori, a expressão padre coiteiro. Indaga-se
- E não é da atitude do bom pastor acolher o homem? Jesus Cristo não distingue
ninguém e sendo o Padre Cícero um seu fiel apóstolo, obediente aos mandamentos,
e principalmente do mandamento de Cristo ensinado no livro de João 15, 12, singularidade
aprendida e disseminada pelo Padre Cícero que abraçou quem lhe procurou,
desvalidos e criminosos, com os mais singelos dos sentimentos humanos para a
regeneração dos perdidos.
“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo”. João 15, 12.
Seja o cangaceiro Lampião ou um
indivíduo de bem, padre Cícero os tratara com o mesmo grau de importância, pois
o que lhe interessava eram a conversão, o arrependimento e a salvação da alma.
Padre Cícero simplesmente amava sem distinção. Com esta áurea o Padre Cícero
conseguiu pacificar homens e transformou a vida de vários elementos em
degradação, exemplo, Sinhô Pereira.
Não
cabe aqui listar os impropérios, porém sua defesa se alicerça nas condutas e
posturas tomadas pelo Padre Cícero Romão Batista durante os momentos mais
tensos da história do Joazeiro, desde o sonho com o divino, passando pelos
milagres eucarísticos até a sua definitiva emancipação municipal aos 22 DE JULHO DE 1911, data áurea de
Juazeiro do Norte quando os munícipes conquistam a sua independência oficializada
através da Lei 1028.
Estava formalizada a promessa, um
espaço de acolhimento e defendido sob leis, com direitos e deveres. Cujo teor da
lei 1028 é a seguinte:
A Assembleia
Legislativa do Ceará Decreta
Art. 1º. — A povoação de Juazeiro, da
Comarca do Crato, é elevada à categoria de Vila e sede do Município, com a
mesma denominação.
Art. 2º. — Os limites do Município:
Ao Norte: o Município de São Pedro
Ao Sul: Município de Barbalha,
A Leste: o Município de Missão
Velha.
A Oeste: o Município do Crato
Linhas divisórias:
Com São Pedro, ao Norte, a linha divisória
é o riacho dos Carneiros. Com Barbalha, ao Sul, a linha divisória é a Lagoa
Seca. Com Missão Velha, a Leste, a linha divisória é o Rio Carás, no Alto da
Jurema. Com Crato, a Oeste, a linha divisória é o riacho São José.
Art. 3º. — Fica criado no mesmo
Município o Termo Judiciário, anexo ao Crato.
Art. 4º. — Nestes termos haverá um
Tabelião Público Judicial e de notas, que acumulará as funções de Escrivão
Geral.
Art. 5º. — Revogam-se as disposições em
contrário.
Paço da Assembleia Legislativa do
Ceará, 22 de julho de 1911.
As. Belizário Cícero Alexandrino —
Presidente
São por estas e outras que o personagem
histórico Dr. Floro Bartolomeu da Costa se enquadra numa ambiguidade entre o
poder meritório e o poder pelo poder. Mesmo ainda, controverso, esquisito e
prepotente, o baiano Dr. Floro Bartolomeu da Costa foi para o Juazeiro do
Norte, a coluna de sustentação que não se fragilizou, lutou com braço forte pelas
intenções de transformar aquele reduto (Sítio Joazeiro) numa cidade com
assistência (Emancipada) aos chegados romeiros, aos pequeninos do Padre Cícero.
Uma cidade independente para sustentar e
garantir aos pequeninos do Padre Cícero Romão Batista o livramento da opressão
social e da violência exacerbada dos latifundiários e cangaceiros.
Tais execrações e vilipêndios eram
combatidos com veemência quando caía aos conhecimentos do padre do Juazeiro.
Sobressaltado no aconselhamento, instigador do arrependimento, proferia o padre
a alegria dos ouvintes, sua altivez fez salvar muitas vidas renascendo novos
homens anteriormente acostumados com o crime.
Outro exemplo de sua sina por justiça e
abnegação de sua conduta moral e ética fez o Padre Cícero, quando repreendeu energicamente
os assassinos de [6]Quintino Feitosa, crime perpetrado
pelos terríveis indivíduos Zé Pinheiro e Zé Terto, nos idos de 1914. Fato
ocorrido pouco tempo depois da vitória da Sedição de Joazeiro sobre as tropas
legalistas de Marcos Franco Rabelo.
Com
a necessidade de forças na frente de defesa de Joazeiro, Dr. Floro Bartolomeu
arregimentou uma milícia composta de jagunços, cangaceiros e romeiros. Durante
os movimentos da Sedição, os jornais oposicionistas destoaram à imagem Padre
Cícero imputando-o a mácula de coiteiro de cangaceiro, agitador e reduto de
fanáticos.
Feridas muito grandes foram abertas em
virtude das indevidas taxações aplicadas ao patriarca de Juazeiro, quando no
mais acontecia durante o terrível conflito era o padre Cícero se impondo
através de aconselhamento para que não praticassem excessos contra um inimigo
este seu papel eclesiástico não distingue ser humano algum. Vitorioso pela reza
em numa guerra sem mortes. Padre Cícero dominava a conduta dos seus com as
seguintes instruções:
- Que durante a Sedição de Juazeiro,
não atirar no atacante indefeso, que o deixasse viver.
- Que não violentassem as mulheres nos
lugares que fossem tomados ou ocupados durante os levantes de defesa ao
Juazeiro e do Padre Cícero.
- Que não roubasse e nem saqueassem as
casas ou comércios alheios durante as incursões até a capital Fortaleza.
Se
aconteceram excessos, casos pontuais, foram pela desobediência ao mestre. Hão
de considerar os possíveis descontrole de alguns descompassados do significado
do movimento, indo ao meio apenas para apropriar-se do alheio, quando
descoberto recebiam severas punições dos comandos de Dr. Floro Bartolomeu da
Costa.
Assim era as virtudes e atitudes do
Padre Cícero em sua comuna santa. O padre que via o indivíduo como peça da
criação e passiva de salvação.
Quando uma situação lhe fugia do
controle, algo era feito para ressoar seus pedidos, como fez aos jagunços
durante a sedição de Juazeiro. Esta concepção é incompreensiva para quem não o
ver à luz dos evangelhos. Ele, o Padre Cícero Romão Batista, teve as virtudes
espirituais do Cristo, fiel e obediente ao seguinte mandamento do filho de Deus: “Um novo
mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que
também vós uns aos outros vos ameis”. João. 13 – 34
Além de sua compostura com o próximo,
ressalta-se as orientações sobre os modos de vida e convivência do povo. Uma
fortaleza para alavancar a independência municipal garantindo a defesa da
cidade Santa dos romeiros e a boa convivência, assim, o grande sacerdote desenvolveu a sua missão.
O Padre Cícero, em
quanto político, era o mais resoluto nas mãos de Dr. Floro Bartolomeu da Costa,
pois os laços do dileto reverendo eram com a espiritualidade e não com a
materialidade, para isso, teve ao seu lado o próprio Dr. Floro Bartolomeu da
Costa (Na política) e a D. Joana Tertuliana de Jesus, a Beata Mocinha (No
financeiro).
No entanto, e ainda, Ralph Della Cava
aborda a seguinte apreensão do Patriarca de Juazeiro quanto à política, uma
declaração de sua aversão aos acordões políticos, gabinetes e querelas
partidárias. “ Qualquer tentativa de
explicação deve começar pelo exame da própria confissão do Patriarca de que
“nunca desejei ser político” e da sua contradição formal ao tomar posse no
cargo de primeiro prefeito de Joazeiro, no final de 1911. Explicou, naquela
oportunidade, que, anteriormente à
elevação de Joazeiro à condição de Vila, viu-se” forçado a colaborar na
política... (a fim de) evitar que outro cidadão, por não saber e ou não poder
manter o equilíbrio de ordem até esse tempo por mim mantido, comprometesse a boa
marcha dessa terra (Joazeiro)...” (CAVA, 159/160. 1979).
Portanto,
se finda nessa expressão que o Padre Cícero era avesso as questões políticas.
Atividade contrária ao seu dom e de fácil compreensão, pois a seara política
partidária é uma mal fadada inversão de valores e submetimento, no entanto,
caprichos indignos para um homem coeso do diálogo desinflamado e sem paixões,
atitudes muito comum nas assembleias estaduais e municipais.
Pe.
Cícero deixa bem claro, que a sua maior preocupação era com o futuro do
Juazeiro administrado por mãos erradas, precisava ele dar direção e
características próprias confiado no sonho, para isso teria que ser ele o
prefeito municipal. Outro não faria as benesses aos desvalidos e provavelmente
faria política contrária aos romeiros.
Mesmo assim, pela causa maior, ou seja,
a paz interna, a manutenção da dignidade dos humildes e o reconhecimento do
território de Joazeiro, fizeram com que o Padre Cícero se arregimentasse nas
fileiras da política, a contragosto, porém auxiliado pelo Dr. Floro Bartolomeu
da Costa, duas forças que cuminaram na emancipação municipal.
A valiosíssima conquista da
independência municipal significava a peça fundamental do compromisso selado
entre o Padre Cícero e o Coração de Jesus, pois estava posto o resultado positivo
da árdua luta em defesa do território escolhido e dos que em Juazeiro buscavam
o alento para a alma, para o estômago e para dignidade.
O Juazeiro nascia com
ares de soberania pregando a dignidade pelo trabalho.
Para tanto, foi o padre Cícero quem fez
gerar as rendas para as despesas municipais arrendando terras da Chapada do
Araripe. Naquele altiplano ele loteou uma junta de trabalhadores rurais para o plantio
de mandioca cuja responsabilidade era abastecer os mercados e feiras do
Nordeste.
O comércio se desenvolvia altivamente,
e no Joazeiro encontrava trabalho e renda. Daniel Walker substancia essa
afirmação quando caracteriza de forma extraordinária o papel do Padre Cícero na
vida do homem desprovido e do significado deste para o desenvolvimento se sua
nova cidade, e vida.
“Chegando
ao povoado, os romeiros, orientados pelo Padre Cícero, trabalhavam na
manufatura de vários utensílios de uso doméstico confeccionados com
matéria-prima local: louças de barro, vasos, panelas, cutelaria, sapatos,
objetos de couro, chapéus, esteiras de fibras vegetais, corda, barbante, sacos
e outros receptáculos para estocar e expedir gêneros alimentícios. As
habilidades manuais do povo e as necessidades do sertão levaram, eventualmente,
à fabricação e exportação de instrumentos rurais típicos, tais como, enxadas,
pás, facas, punhais, rifles, revolveres, balas e pólvoras”.
(WALKER, p. 44. 2010).
Um feito extraordinário, cujos efeitos
lograram renda suficiente para o investimento nas melhorias da cidade quanto para
a manutenção de cada família adventícia, ou nata do primitivo sítio Joazeiro.
E no Juazeiro do “Padim Ciço”, o pobre
teve terra para trabalhar, aprendeu a cuidar da família e recebeu orientações
para toda vida. O Juazeiro já nascia, oficialmente, com ares de terra
prometida.
O Padre Cícero deu dignidade a quem não tinha.
Isto foi um terrível incômodo que alarmaram os coronéis fazendeiros, seres macabramente
sortidos da índole opressora, cabal, no que teoriza Thomas Hobbs: “O homem é o
lobo do próprio homem”. Ou mesmo, e ainda, na lei perversa da oferta e da
procura combustível feroz do modo de produção capitalista quando se diz: Da
exploração do homem pelo homem. Por que naquele momento, o Juazeiro ressurgia
com ares de independência econômica, produto do poder individual dos
concidadãos juazeirenses.
Por. FEITOSA COLÔ
*Brevemente: continuação desta postagem.
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