CONTINUAÇÃO.
2. Geografia
Nos idos de 1827, o Sítio Joazeiro era
considerado um entreposto para descanso de mascates que se dirigiam a feira da
cidade de Crato ao meio caminho entre aquela cidade e Missão Velha. Um reduto
para recomposição física dos homens e animais que transportavam pesadas cargas
de rapaduras e outras mercadorias para serem comercializadas na então
tradicional feira de Crato. Um repouso para aqueles que vinham de paragens mais
distantes, principalmente, os mascates provenientes de Pernambuco.
No mapa de Otávio Aires de Menezes são
postos em destaque os logradouros dispersos ao longo da estrada velha cujo ponto
central era o Sítio Joazeiro, por ali já constar um pequeno aglomerado urbano
com proeminentes famílias latifundiárias, casas, casa de fazenda, senzalas,
escola, além de uma igreja com padre fixo.
Um entreposto muito aprazível e ideal
para uma estadia, características que fizeram do sítio Joazeiro um ponto, a
meio caminho, seguro e ideal para descanso.
Otávio Aires de Meneses esboçou o que
seria o Sitio Joazeiro e seu arrabalde nos idos de 1827. Um esboço territorial
de como se encontrava distribuído o núcleo inicial e suas áreas de influencias do
que viria a ser a cidade de Juazeiro do Norte. Nele, podemos ver alguns
acidentes geográficos, além de um elaborado circuito de deslocamento entre os
espaços interiores, cuja descrição se encontra nos parágrafos abaixo.
Ao norte do núcleo central está a
serra do Catolé, atualmente chamada Serra do Horto ou ainda Colina do Horto. Este
relevo fez parte de um engenhoso projeto de delimitação territorial, iniciado
alguns anos antes aos pretensos desejos políticos do Cel. Joaquim Bezerra de
Menezes e do, também, Padre Alencar Peixoto.
O Padre Cícero Romão Batista, preparou
o território, para nele construir o Lugar orientado em sonho. Um espaço para
fazer valer a ordem do Sagrado Coração de Jesus: “- E você Cícero, cuide deles”.
Para tanto, não seria outro, há não
ser Ele, o orientado e conhecedor de perto das mazelas que afligiam os
desgarrados.
Sua missão e obediência tomaram forma
e força ao construir os valores de pertencimento e de identidade, também, ao
delimitar com marcos limítrofe todo o território da futura cidade de Juazeiro.
Os pontos delimitadores se encontram posicionados e datados com o ano de 1904, e
assinados com a insigne do Padre Cícero, dado em consonância ao ideário
libertador, cujo resultado seria a futura emancipação político municipal em
relação a cidade de Crato.
Ressalta-se que a data de 1904 é
encontrada em diversos marcos delimitadores, isto se faz importante a ressaltá-lo,
pois aquele ano precede em pelo menos três a célebre reunião cívica idealizada
e realizada pelo major Joaquim Bezerra de Menezes aos 18 de agosto de 1907, ou
seja, o Padre Cícero Romão Batista já havia iniciado a demarcação territorial
da futura cidade de Juazeiro do Norte muito antes de qualquer outro cidadão.
Sua popularidade e o desprendimento por vaidades, fizeram deste homem um sagaz
investidor de seus ideais, saindo a campo ou dirigindo ordens, Padre Cícero
desenhou o território do Juazeiro, e o mais importante, Ele, e mais ninguém
estaria mais apto em defender o povo adventício, sua preocupação maior.
Em 1909, o nobre reverendo do Joazeiro
conclama o apoio junto a Assembleia Estadual pela sua emancipação política cujo
teor aborda, principalmente, o seu acelerado desenvolvimento econômico, em vias
independência de Crato.
Ao
Leste (leste), identificam-se as ribeiras do rio Carás, contraforte delimitador
das primitivas sesmarias do cariri colonial. Famosas ribeiras que abasteceram e
matavam a cede do gado bovino, terras requeridas ao capitão-mor. Entre os dois
acidentes geográficos segue a mesma estrada que liga atualmente Juazeiro do
Norte a cidade de Caririaçu, cidade que outrora se chamava São Pedro de
Caririaçu.
No sentido oeste/leste, em maior destaque,
o leito do rio Salgadinho, o rio Jordão dos romeiros, um dos principais afluentes
da bacia hidrográfica do rio Salgado/Jaguaribe e um número elevado de sítios em
toda a sua planície fluvial.
Ao oeste as planícies fluviais, compreendidas
como as áreas mais baixas e úmidas denominadas popularmente por brejos. Esses
locais estavam repletos de canaviais com respectivos engenhos produtores de
melaços, rapaduras e aguardente, principalmente. Produtos de alto poder de
venda, cujos dividendos lograram grandes arrecadações em impostos, fator
primordial das desavenças entre Joazeiro e Crato.
Ao sul do mesmo ponto de referência
encontramos o relevo dos chamados Tabuleiros, são terrenos mais acentuados e
proeminentes com altitude considerável em virtude da inclinação das vertentes
voltadas para o interior da bacia sedimentar da Chapada do Araripe. Os terrenos
mais altos se encontram próximo as vertentes e em declives suaves em direção ao
rio Salgadinho, porém isentos de inundações.
Encaixados nas áreas planas encontramos
o pioneiro núcleo de adensamento populacional que deu origem a cidade de
Juazeiro do Norte com suas primitivas estradas vicinais que interligavam alguns
outros sítios circunscritos ao núcleo central. Atualmente os referidos sítios
são, atualmente, importantes bairros de Juazeiro do Norte, exemplo do Limoeiro,
Timbaúba e Lagoa Seca.
Contudo, no mesmo mapa são
identificados alguns nomes que ficaram preservados cujas denominações são remanescentes
das antigas passagens da carroçável que ligava Missão Velha/Crato, nomes que se
perpetuaram e que representam importantes áreas de expansão da atual Juazeiro
do Norte como: Logradouro, Malvas, Muxila (Atualmente se chama Salgadinho),
Limoeiro, Boca das Cobras, Lagoa Seca e outros.
Em sentido noroeste/sudeste temos a
antiga [1]Rodagem,
uma continuidade do caminho que ligava o sítio Joazeiro ao Crato. Esta via, era
a continuação do trajeto dos comboieiros provenientes do estado de Pernambuco
em direção a feira de Crato com passagem aos seguintes entrepostos: Logradouro,
Muxila, Salgadinho, sede do povoado de Joazeiro, Malvas, Comboieiro e por fim seguia
até entrada para rodagem de Missão Velha.
Já haviam se passado 39 anos, quando o
Padre Cícero decide permanecer no vilarejo do Joazeiro até a definitiva promulgação
da independência municipal em 1911. O compromisso de Cícero em ficar naquele
sítio teve o propósito de cuidar e proteger os desvalidos, para tanto, havia a
necessidade de criar um reduto digno, e, acima de tudo, sob a sua autoridade.
O Joazeiro crescia a passos largos,
tanto em população quanto economicamente, não sendo diferente a
responsabilidade e a autoridade de Padre Cícero em administrar o município no
sentido de proteger os humildes que chegariam ao Joazeiro, cujo pedido foi perpassado
em sonho pelo próprio Jesus Cristo.
Sob esta ótica, nenhum outro cidadão
estaria apto a dirigir a comuna, e principalmente, pós-emancipação, pois
naqueles momentos iniciais, e difíceis, estaria em jogo a paz social, portanto,
o Padre Cícero temendo o repúdio e a discriminação quanto à presença cada vez
maior de adventícios em Joazeiro, o sacerdote se adianta ao presidente da
província Antônio Pinto Nogueira Accioly, e recebe a comenda de primeiro
prefeito municipal. Fato que aborreceu cidadãos proeminentes daquela sociedade,
principalmente o clérigo Padre Alencar Peixoto e o Cel. Joaquim Bezerra de
Menezes. O primeiro desferiu contra o padre prefeito ruidosas acusações e
impropérios, já o segundo cidadão vende suas terras e se desloca
definitivamente para cidade de Crato e nunca mais retornaria a sua terra natal,
o Joazeiro.
Daquele antigo
Sítio Joazeiro, entreposto de descanso dos viajantes, já se encontrava abraçado
pelo Padre Cícero como o Lugar de proteção aos pequeninos, além de um reduto
promissor, munido de um arranjo econômico pautado na agricultura, pecuária,
pequenos comércio e fundições.
Ao raiar do século XX, Padre Cícero
Romão Batista já alimentava o ideal de construção do Lugar, territorializando-o.
Seus primeiros passos foram a criação dos
valores de pertencimento e elos de identidade daquela nova comuna que se
ergueria para dar alento, segurança e alimento aos filhos desvalidos. Portanto,
estava em curso a sua fiel obediência e missão feita em sonho.
Milton Santos conceitua o território,
cujo teor científico abarca as paixões do padre Cícero em transformar o espaço
geográfico e suas territorialidades dotando-o de elos de pertença e valores. Singularidades
que caracterizam seus componentes humanos, sociais, culturais, políticos e
econômicos, portanto, Juazeiro já nascia com as feições de seu povo.
“O território é o
chão e mais a população, isto é uma identidade, o fato e o sentimento de
pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da
residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre as quais ele
influí. Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que está
falando em território usado, utilizado por uma população.”
(SANTOS, 1993)
A partir de 1904 o santo padre do
Juazeiro e posteriormente com o apoio incondicional do Dr. Floro Bartolomeu da
Costa iniciam demarcação territorial e os trâmites legais de independência,
logrando sua autonomia econômica. Padre Cícero, demarca geograficamente a futura
cidade de Juazeiro do Norte, salteando sua assinatura em locais estratégicos delimitando
o futuro município.
Como dito alhures, o território foi um
fator preponderante para constituição de um espaço de identidades, e até
superior a atitude executada, anos antes, pelo do Cel. Joaquim Bezerra de
Meneses em convocar reunião comunitária alusiva a sua pretensa aclamação como
primeiro prefeito.
Para a efetiva construção do Lugar, Padre
Cícero construiu diversos MARCOS confeccionados em rochas e materiais metálicos
para delimitação dos limites municipais. Estava em curso um trabalho
previamente elaborado, o homem e a terra, o homem e seus laços de pertença.
Restava agora a oficialização das delimitações, cujo Marco do local Riacho
Seco, limites com o município de Missão Velha se consuma homologada. E para
tanto, a área territorial, foram consagrados em blocos rochosos, signos de um
novo território que se moldava a cada dia.
A pedra fundamental que deu início ao dimensionamento
territorial que lograria a emancipação municipal, ou seja, primeiro marco
limítrofe se encontra na planície fluvial do rio Salgadinho, cuja face lateral vem
assinalada com o ano de 1904, portanto, não existindo nenhum outro marco anterior
a esta data.
É interessante abordar a classificação
dos tipos de rochas utilizadas para confecção dos MARCOS limítrofes, além de
uma breve reflexão sobre os outros confeccionados em placas metálicas.
Sedimentares, magmáticas e
metamórficas, estas são os três tipos de rochas encontradas na natureza. Cada
marco encontrado corresponde ao tipo de rocha específico do local, ou seja, não
houve transferência de materiais e a confecção do marcos foi produzida no
próprio local da delimitação.
Nas proximidades do rio Salgadinho se
encontram os marcos em rochas sedimentares e nas áreas mais afastadas do leito
do rio são encontradas em rochas metamórficas, muito abundante, e nos relevos
mais elevados, como por exemplo na Serra do Horto são encontrados marcações
feitas em rochas graníticas.
Curiosamente, provavelmente, pelas
dificuldades de se deslocar em meio à vegetação densa ou desfolhada nos
períodos de estiagens, o agrimensor sofria sob o causticante sol do semiárido
associado as longas distancias a serem
percorridas. Além dos marcos produzidos em rochas também foram confeccionados
cruz e placas metálicas para identificar os limites territoriais entre
Joazeiro, Aurora e Missão Velha.
Estes elementos metálicos denunciam o
grande desenvolvimento a qual se passava o antigo sítio Joazeiro em um próspero
núcleo populacional com suas significativas fundições e metalurgias produtoras
de peças metálicas (Placas, cruzes, enxadas, pás, facas, facões etc).
Após a lapidação da rocha em forma
geométrica de um paralelepípedo alguém, muito habilidoso, escrevia independente
do tipo de rocha, o esmero artesão grafava a insigne do Padre Cícero.
Todas as rochas, placa metálica e o crucifixo
estão devidamente assinados pelo patriarca do Juazeiro. Esta característica é singular
e pertinente do desejo do sacerdote acender o Juazeiro independente.
Com as marcações territoriais realizadas
pretéritas a emancipação evidencia sua obediência e a definitiva permanência do
Padre Cícero ao sítio de Joazeiro. Este trabalho de campo ao que indica fez
parte de um processo de modelagem do espaço, uma territorialidade consagrada
aos desvalidos e religiosa, pois estava posto a fidelidade ao desejo proferido,
em sonho, pelo Sagrado Coração de Jesus.
O Juazeiro despontava e novas
construções foram feitas, casas, fabriquetas de diversos artigos em madeira, couro
e metal, além da igreja matriz de Nossa Senhora das Dores. Sua construção foi iniciada
aos 12 de fevereiro de 1874, e devidamente ornamentada com uma belíssima imagem
da referida santa padroeira comprada e importada da França pelo Padre Cícero
Romão Batista aos 18 de setembro de 1887.
A referida imagem, dito alhures, foi comprada
pelo Padre Cícero e a mesma substituiria em definitivo a antiga em estilo
bizantino adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra, e presenteada ao seu neto,
a época, recém ordenado, o então, padre
Pedro Ribeiro de Carvalho, clérigo considerado o fundador do povoado e
construtor da primitiva capelinha sob o orago de Nossa Senhora das Dores.
O brigadeiro Leandro Bezerra era o proprietário
das terras que veio surgir à cidade de Juazeiro do Norte.
Sobre a construção da
territorialidade, ao que parece, Padre Cícero Romão Batista se depreende,
inicialmente, em apartar as terras de sua terra natal, o Crato da do próspero
Juazeiro. Para isto, é delineado, a partir de 1904, um número maior de seixos
indicativos dos limites municipais, contudo, são fixados, inicialmente do lado
oeste as duas cidades.
Além da primazia em demarcar os
limites territoriais em Juazeiro e Crato, Padre Cícero Romão Batista delimitou
as áreas distritais (Sítios), periféricos ao núcleo central, Joazeiro. Desta
forma, estão devidamente postos em meio a vegetação os marcos delimitadores dos
Sítios Muxila e bedouro.
Alguns blocos rochosos, estão lapidados
em forma de paralelepípedos, outros não, como exemplos os marcos de Muxila,
Bebedouro, Pau Seco e Serra do Catolé, aqueles estão perfeitamente alinhados norte/sul) em posições exatamente obedientes
ao atual limite territorial de ambas a cidades, Crato e Juazeiro, indo
confrontar com o sítio dos Popô, limite extremo norte com o território de
Caririaçu.
POR: PROF. FEITOSA COLÔ
[1]
Rodagem: Antiga estrada carroçável, nome popular, em virtude de sua função no
deslocamento de pessoas entre a sede municipal de Crato ao antigo sítio do
Joazeiro. Segundo a literatura, Dr. Floro Bartolomeu da Costa teria se
utilizado desta referido caminho, ermo, para exterminar seus desafetos.
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