Invasão e resistência- Os 90 anos da derrota de Lampião no confronto com o povo de Mossoró- Partes VIII e VIX

INVASÃO E RESISTÊNCIA - OS 90 ANOS DA DERROTA DE LAMPIÃO NO CONFRONTO COM O POVO DE MOSSORÓ –"RETORNO AO SACO E A FUGA DOS CANGACEIROS"- PARTE VIII
Por José de Paiva Rebouças

Por volta das seis e meia da noite, o vando voltava para o acampamento pelo meio do mato. Semblante de derrota. Tiveram de derrubar uma cerca de varas para seguir caminho.

Em silêncio, demonstravam a frustração. Perderam dois homens valiosos. Colchete e Jararaca, e de igual forma, carregavam outros feridos.

Virgínio, cunhado de Lampião tinha sido atingido na coxa esquerda por uma bala. Outro homem apresentava ferimento grave na altura do abdômen. Gemia em desatino. Uma toalha foi usada para estancar o sangramento estava ensopada. Lampião decidiu parar para acudir o comparsa. No casebre de Maria Liberata pediu água e sal para lavar o ferimento.

"A chegada ao Saco foi melancólica. O olhar faiscante do rei vesgo refletia ódio e decepção pelo fracasso. Ralhava ferozmente contra Massilon - no seu entender, o único responsável pela desastrada empresa. Esmurrava cavalos. Gritava para a cabroeira", conta Sérgio Dantas.

A escuridão da noite não impediu a retirada do bando. Uma lua esmaecimento era a única sombra de luz. Tomaram o rumo da Fazenda Jucuri e cortaram o fio do telégrafo. Pararam na casinhola de Antônio Gomes de Araújo o e o levaram, junto com seu filho, como guias.

Um pouco à frente Formiga que ainda os guiava, demonstrou sinais de cansaço. Solicitou liberdade a Lampião. Ele concedeu, mas pediu que fosse falar com Antônio Gurgel O coronel aproveitou a oportunidade e enviou outro bilhete, agora ao irmão Tibúrcio Gurgel, conhecido como Tiburcinho.

Eta visível o cangaço também nos cangaceiros, mas eles disfarçavam e contavam vantagem na frente dos reféns. Pararam para descansar em lugar ermo e de madrugada acordaram de sobressalto com tiros vindos de Mossoró.

"Olhem, estão atirando pensando que é em nós, mas é na força paraibana", sugeriu Sabino.

Continuaremos amanhã com o título:
"O DIA SEGUINTE E A PRISÃO DE JARARACA"

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Fonte: Jornal De Fato
Revista: Contexto Especial
Nº: 8
Páginas: 36.
Ano: 6
Cidade: Mossoró-RN
Editor: José de Paiva Rebouças
E-mail: josedepaivareboucas@gmail.com
Ilustrado por: José Mendes Pereira

http://blogdomendesemendes.blogspotcom

INVASÃO E RESISTÊNCIA - OS 90 ANOS DA DERROTA DE LAMPIÃO NO CONFRONTO COM O POVO DE MOSSORÓ –" O DIA SEGUINTE E A PRISÃO DE JARARACA"- PARTE IX
Por José de Paiva Rebouças

A noite do dia 13 foi de apreensão. Porém, afora a passagem da volante paraibana, do tenente João Costa, por volta das três horas, nada mais tinha acontecido. Pela manhã, os homens ainda nas trincheiras mantinham guarda. mas logo Francisco Fraga o Vinoca, saiu pelas ruas de carro gritando que o povo poderia sair de casa.

Comemorações se espalharam, mas grande chamariz era a praça da Igreja de Santa Luzia onde ainda estava exposto do cadáver de Colchete exalando forte odor. Famílias inteiras iam olhar o morto. A aglomeração e o medo de Lampião voltar, no entanto, obrigou o tenente Abdon Nunes a dispersar o povo.

Colchete foi amarrado pelas pernas e braços em um tronco e levado ao cemitério, onde foi enterrado nos seus arredores sem receber a extrema-unção.

Mesmo baleado em duas ocasiões, assim que caiu a noite, Jararaca rastejou até os trilhos de trem e se afastou da cidade. Chegou à ponte férrea na esperança de escapar com vida, mas não conseguiu atravessar os dormentes.

Pela manhã (dia seguinte), avistou uma barraca de lona próxima ao rio, ocupado por trabalhadores da estrada de ferro. Se assustaram quando viram o cangaceiro, mas ele os tranquilizou e disse que pagaria por ajuda.

Pediu a Pedro Tomé, um dos cassacos, que fosse até s cidade comprar medicamentos: gaze, algodão, tintura de jucá e água oxigenada. Entregou-lhe uma nota de 500 mil réis e lhe advertiu para não o entregar. "Na volta lhe dou boa gratificação", assegurou.

Na cidade, Pedro ainda encontrou o povo em movimento para ver o corpo de Colchete. Seguiu-se para a botica e pediu os produtos. O boticário perguntou para quem eram as compras e o homem contou tudo. Foi orientado a procurar o tenente Laurentino de Morais.

Tenente Laurentino de Morais

O oficial vibrava com a notícia. Sacramentaria a vitória de Mossoró com a prisão do cangaceiro. Bolou um plano com Pedro Tomé e o mandou voltar para o rio. No local, Jararaca cansado e abatido, não se deu conta da emboscada. Ao contrário, atendeu ao homem quando lhe pediu para baixar as armas e tirar os arreios.

Ao passar o braço por dentro do casaco, se obrigou a largar a arma por tempo suficiente para Pedro tomá-la, rendê-lo e gritar pelos policiais. As últimas palavras de Jararaca para Pedro, no entanto, lhe devem ter incomodado durante muitos anos.

"Você é um cabra de sorte. Quando você saiu eu pensei que ia mesmo me denunciar e quis matar você, mas me decidi", disse, segundo conta Raul Fernandes. 

Últimos assaltos e a fuga para o Ceará

Por volta das cinco da manhã do dia 14 de junho, os bandoleiros tomavam de assalto o sítio Jucuri, de Manoel Freire. O homem soube do combate em Mossoró, mas nunca imaginou que alguém chegasse por lá. Tirava o leite no curral junto a seu vaqueiro Téofilo Lucas quando foi rendido. Depois de ter sua casa saqueada, ele e a esposa, dona Francisca foram espancados. Freire foi levado refém por 10 contos de réis.

Por volta das nove da manhã, entre os sítios São Jorge e Veneza, um cangaceiro ferido não suportava de dor e pediu para morrer. Debaixo de uma velha quixabeira, o cangaceiro Marreco deu um único disparo. Enterraram o bandido em cova rasa à beira do caminho.

Se aproximava das dez horas da manhã quando o bando apontou no terreiro da fazenda Veneza de Childerico Fernandes. Encontraram dinheiro e objetos de valor. Sabino quis saber, no entanto, se ali ainda era o Rio Grande do Norte. "No Ceará eu não toco numa folha, mas aqui a coisa é outra".

Ali se demoraram, deitaram, comeram e conversaram bastante. Segundo Raul Fernandes, Lampião aproveitou para desabafar. 

"Você ver minha vida? Enquanto os outros se distraem e descansam, eu não posso tirar um cochilo. Estou preocupado com os macacos que devem andar por perto", disse. Suas palavras ganharam apoio de Antônio Gurgel, sempre muito político.

Na ocasião, o comandante-chefe enalteceu a bravura do povo de Mossoró. Disse saber reconhecer a coragem de homens valentes. Com olhar vago, sem aparente mágoa disse que ainda voltaria à Mossoró. Fato que nunca aconteceu.

Massilon interveio quando um cabra tentava tomar a aliança de dona Felisbela mulher de Childerico. Mandou o bandido sair da casa e aproveitou para se confessar. 

"Não sou bandido. Assim que chegar ao Ceará, deixarei essa gente. Vou cuidar da minha vida", afirmou, segundo conta Raul Fernandes.

Pouco depois, Lampião reuniu a tropa e partiu. Ao cruzar a fronteira cearense, o capitão alertou à turma. 

"Aqui já e´Ceará. Para adiante ninguém rouba mais, pois o governo daqui não bole com a gente", determinou.

Libertação dos reféns

Nas proximidades da fazenda Lagoa do Rocha, já no Ceará, um portador apareceu com o resgate de Manoel Freire. Ainda no vale do Jaguaribe, no dia 18 de junho, o vaqueiro Manoel Alves levou o resgate do coronel Joaquim Moreira.

Somente no dia 25 de junho, depois de enfrentar novos confrontos, sede e fome, e por decisão dos cangaceiros, é que Antônio Gurgel e Maria José Lopes foram libertados, mesmo sem pagamento de resgate.

Lampião pediu que dona Maria José tivesse cuidado na volta e a Gurgel entregou duas moedas de ouro. 

"É para sua netinha", disse para a surpresa do coronel. 

Os dois se despediram e foram guiados por Sabino, Mormaço e outros três.

Maia à frente, Sabino mandou que os dois esperassem no leito de um riacho. Ficaram ali meia hora achando que os homens não voltariam, mas dali a pouco, retornaram com alguns mantimentos. Sabino entregou a eles metade de um queijo coalho e 100 mil réis ao coronel e outros 60 à dona Maria.

Apontou o caminho que ia dar numa cabana e partiu sem despedida. No lugar, foram mal recebidos. Tentaram outra casa,, mas o medo de que fossem cangaceiros afugentava as pessoas. Dormiram ao relento.

Perto das nove horas do dia 26, toparam com os sertanejos Agápito Ferreira Maia, da fazenda Boqueirão e Manoel Herculano da Cunha, do sítio Letrado. Os homens os levaram até a fazenda Lagoa do Córrego, de Alexandrino Diógenes, onde foram bem recebidos. 

Alexandrino emprestou dois cavalos para levá-los até a fazenda Letrado. Ao saber que Tylon, seu irmão, estava pelas redondezas, o coronel Antônio Gurgel lhe mandou um bilhete. No mesmo dia se encontraram e seguiram para Mossoró. Dona Maria José Lopes ficou na casa de Herculano Cunha, no Letrado. Recebeu telegrama do irmão pedindo para esperá-lo ali mesmo. 

Quando chegou, Antônio Batista Maia trazia consigo um pequeno grupo volante. Há dias. marchava em busca da irmã. Queria resgatá-la à força. Tinha se unido ao coronel Manoel Gonçalves, de Lastro/PB, mas estavam sempre há dois dias de atraso em relação a Lampião. 

Entrevistas de Jararaca

Preso na Cadeia Pública de Mossoró desde o dia 14 de junho, surpreendentemente, o cangaceiro Jararaca apresentava sinais de melhoras, apesar de ter ferido a bala no peito e numa perna.

No mesmo dia em que foi preso, Jararaca concedeu entrevista ao jornalista Lauro da Escócia, do jornal O Mossoroense. Segundo o pesquisador Geraldo Maia, começou dizendo que se chamava José Leite, que tinha 27 anos e havia nascido no dia 5 de maio em Buíque/PE. 

Disse ainda que o ataque à Mossoró foi idealizado por Massilon Leite e que Lampião relutou um pouco, por causa da histórias das duas igrejas. Que quando Lampião chegou à Mossoró não gostou nada, nada daquela "Igreja da bunda redonda" (Capela de São Vicente) de onde estavam partindo os tiros contra o bando. Então Lauro perguntou:

"Mas, enfim, Jararaca, para que Lampião queria tanto dinheiro?"

"Era para comprar os volantes de Pernambuco";

O cangaceiro disse ainda que "encontrava proteção no território cearense, tendo Padre Cícero do Juazeiro, no tempo da revolução, fornecido armas e munição a Lampião".

Lauro da Escócia o descreveu como sendo "moreno, muito moreno, mas não era negro". Era solteiro e andava com Lampião há um ano e alguns meses. Tinha um fuzil máuser e cartucheiras de duas camadas, mas 560 mil réis no bolso e uma caixinha com obras de ouro no valor de 1 conto de réis.

No dia seguinte, 15 de junho, deu outra entrevista, agora ao jornal Correio do Povo. Neste momento, falou ainda mais e passou a dar nome aos apoiadores do cangaço.

Segundo ele, parte do dinheiro dos saques realizados por Lampião era para comprar os oficiais da polícia de Pernambuco, especialmente o major Teófanes, oficial responsável pela prisão de Antônio Silvino.

Disse ainda que o bando de Lampião vinha aramdo com 44 fuzis máuser, 9 rifles, e 15 mil cartuchos, todos doados pelo médico e político Floro Bartolomeu, responsável pelo combate da Coluna Prestes no Ceará em 1925. 

O cangaceiro informou também que o cangaço recebia apoio do coronel José Otávio, de Vila Bela,/PE e Santana de Serra do Mato/CE, onde armazenava parte da munição.

Depois da conversa, segundo Sérgio Datas, é possível que o celerado tenha percebido que falou demais. Por isso, pediu uma audiência com o intendente Rodolfo Fernandes, mas não foi atendido pela polícia. 

Continuaremos amanhã com o título:
"O ASSASSINATO DO CANGACEIRO"

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Fonte: Jornal De Fato
Revista: Contexto Especial
Nº: 8
Páginas: 38, 39 E 40.
Ano: 6
Cidade: Mossoró-RN
Editor: José de Paiva Rebouças
E-mail: josedepaivareboucas@gmail.com
Ilustrado por: José Mendes Pereira

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