LAMPIÃO E A SUA FALSA PATENTE DE CAPITÃO


LAMPIÃO E SUA FALSA PATENTE DE CAPITÃO – recomendação de leitura

Desvendar os mistérios que permeiam a história do Cangaço é uma difícil tarefa, principalmente quando o fato, já conhecido, é tido como assunto superado e já arraigado na mente do público, dos pesquisadores.
Lembro, entretanto, que o Cangaço está longe de ser um cordel simplista e acabado, com todas suas minúcias expostas a nu. O novo livro do juazeirense Daniel Walker é uma prova de tudo isso. Há certamente novas nuances surgindo, à medida que a pesquisa se aprofunda e é feito o confronto do que se tem.
Especialista na história do Padre Cícero, a quem dedicou outros livros, o autor traz à comunidade o livro Lampião e sua falsa patente de capitão.
É um cuidadoso trabalho histórico sobre o polêmico ingresso de Lampião no Batalhão Patriótico, em Juazeiro do Norte, a fim de lutar contra os revoltosos da Coluna Prestes, em março de 1926. Foi o primeiro encontro de Lampião com Padre Cícero, ou, como já dissera Lira Neto, ressaltando Glauber Rocha: O encontro de Deus e do diabo na terra do sol.
Na pesquisa, o autor compara a vasta e renomada bibliografia sobre o tema; a correspondência do padre Cícero; relatos orais de personagens contemporâneos e o próprio imaginário popular, a fim de nos colocar o mais próximo do que realmente aconteceu.
É um livro sincero, leal, cercado de cuidado pelo autor, a fim de que o próprio leitor tire suas conclusões diante dos argumentos apresentados. É um livro desafiador, porque tira dessa cena a figura de padre Cícero como mentor da famigerada patente e atiça o vespeiro de quem até então defendia a participação direta e intencional do grande líder religioso nesse episódio pitoresco. Como diz o próprio autor: “O problema é que esse ato empalidece a biografia de Lampião e apequena a literatura do cangaço, daí a insistência dos escritores em valorizar e propagar a versão de Pedro Uchoa como sendo verdadeira.” (p. 131)
O fio condutor dessa trama nos leva a Benjamin Abrahão, à época secretário do padre Cícero. Teria sido ele o mentor do episódio. Tal intimidade com Lampião seria, inclusive, o cartão de visitas, dez anos mais tarde, para que Benjamin realizasse o icônico registro filmográfico do bandoleiro maior e de seus seguidores. Assevera o escritor: “Desse evento, o Rei do Cangaço saiu no lucro e Padre Cícero no prejuízo. O bando de cangaceiros recebeu de graça fardamento, munição e armas de uso exclusivo das forças armadas, o que existia de melhor na época, tudo pago com dinheiro dos contribuintes, sem nenhum resultado positivo, pois o bando desistiu de perseguir os revoltosos e retornou a sua costumeira vida de atrocidades, agora munido com material bélico muito melhor do que os seus antiquados rifles papo-amarelo, e a ironia maior: armado pelo Governo!” (p. 194)
Diante do arcabouço de informações trazidas neste livro, de agradável leitura, confesso que revi muitos dos meus conceitos a respeito do Padre Cícero e sua relação com o Rei Cangaço, ao mesmo tempo em que me senti orgulhoso por termos, no Cariri, um escritor do quilate de Daniel Walker.
É um valioso legado, principalmente neste ano, quando comemoramos 10 anos do Cariri Cangaço, o valioso coletivo histórico-cultural sobre o assunto.

Porto Velho - RO, 24 de Junho de 2019.

Hérlon Fernandes Gomes

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