JOSÉ PRAXEDES, O POETA VAQUEIRO - POR VALTER ABDOM


JOSÉ PRAXEDES BARRETO (1916 - 1983), nasceu a 15 de novembro na fazenda ‘Espinheiro’, município de Currais Novos, atualmente Cerro Corá (RN). Filho de Francisco Praxedes Barreto e Maria Segunda Barreto. Aos sete anos de idade foi matriculado na Escola do povoado Recanto, do mesmo município, onde sua família passou a residir. Com 16 anos foi internado no Colégio Pedro II, hoje Ruy Barbosa, na capital do estado. Durante as férias ele retornava à Recanto, onde se dedicava, de corpo e alma, a vida do campo. Nas vaquejadas era alvo da admiração e orgulho dos vaqueiros; contava em versos a vida do homem sertanejo.
Casou-se com Hilda Pinheiro, em 1941, e geraram José Praxedes Filho. Em 1950, como quase todo nordestino fazia à época, tomou um ITA, navio, juntamente com a mulher e o filho, e desembarcou no Rio de Janeiro. No ano de 1960 publicou o livro “O Sertão é Assim”; posteriormente, em 1970, foi publicado “Meu Siridó”, que teve uma 2ª edição em 1979, pela editora Clima.
Um dos seus trabalhos, mais importantes foi o livro “Luiz Gonzaga e Outras Poesias”, que é a primeira biografia sobre o Rei do Baião, inclusive, toda escrita em versos matutos, com o prefácio de Luís da Câmara Cascudo, editado em São Paulo no ano de 1952. Deste trabalho, destacamos o seguinte poema, na grafia original:
DOIS GRANDES

Duas boas arturidade
Me truveram do Sertão.
A sigunda do País
E a prenmêra do baião.

O Luiz Lua Gonzaga,
Qui dus pampa ao Amazona,
Todo o meu Brasí se curva
Para uví sua sanfona.
Gonzaga, o cantô da terra
Dos matuto e boiadeiro,
O cantô dos tangirino,
Do caçadô, do vaqueiro!
O homem de quem se fala,
É o seu cantá qui imbala
O Nordeste brasileiro.

Apôs bem, esse cabôco
Tão festêjado e feliz!
Protégi o pobe nas ruas,
O vigáro na Matriz.
O Luiz Lua Gonzaga,
Trabáia pelo País.

Doutô João Café Filho,
A palavra desse home,
Tem o gosto da cumida
Quando a gente tá cum fome.

O maió dos Députado
Qui o Brasí já conheceu!
Inté o só ismoréci,
Café nunca ismoreceu!
Esse Café de que falo,
Num é café de São Paulo,
Em minha terra nasceu.

Apôs bem, doutô Café,
Tem um grande coração!
Trabainado como vive
Pru distino da Nação.
Inda tira um momentim
Pra se alembrá do Baião.

Nesta obra de arte, o poeta-vaqueiro, que deixou saudades por onde passou, homenageou os dois responsáveis pela sua apresentação no Teatro Copacabana, no Rio de Janeiro, o vice-presidente da República, portanto a segunda autoridade do País naquele momento, João Café Filho (1899 – 1970) e o Rei do Baião, Luiz Gonzaga do Nascimento (1912 – 1989), que no intervalo, entre a primeira e a segunda partes do programa, cantou os sucessos de sua autoria, naqueles idos de 1952. Portanto, temos assim, três potiguares ligados a História musical do Rei do Baião: Zé Praxédi – autor do livro, Câmara Cascudo – prefaciador e Café Filho – apoiou na publicação e divulgação.

Gravou em 1966, pela Rezenblit, sob o sêlo Mocambo, o LP ZÉ PRAXÉDI, o Poeta Vaqueiro, que levou o nº 40346 desta gravadora. Neste LP declama suas poesias, que foram assim gravadas:
Lado A:
1. Cunfissão
2. Sabedoria de Matuto
3. O Brasí vai casá
4. O Anafaberto
5. Um pueta nordestino

Lado B:
1. Matuto no trem
2. A Vaquejada
3. Proguntando
4. Devonção de Matuto
5. A morte de Zé Dantas.

Fontes de Consulta:
* Luiz Gonzaga e Outras Poesias - Zé Praxédi - São Paulo, 1952.
* Meu Siridó - Zé Praxédi. Ed. Clima - Natal, 1979.
(*) Pesquisador, escritor. Secretário-geral da SBEC.

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