CAPÍTULO I: O MISTÉRIO DOS ESSÊNIOS
Antes que se possa compreender e apreciar adequadamente a história e
o relato real do nascimento e da vida do Mestre Jesus, é preciso ter uma idéia das
antigas organizações e escolas que contribuíram para a preparação de Sua vinda.
Nos últimos cem anos muitas anotações de escrituras sagradas foram
descobertas, relativamente à Fraternidade Essênia e às atividades desta
organização na Palestina logo antes da vida de Jesus e durante a mesma. Muitas
dessas anotações confirmaram as referências feitas aos Essênios por eminentes
historiadores como Filo e Josefo, e explicaram muitas referências misteriosas
encontradas nas escrituras sagradas dos hebreus e traduzidas para a Bíblia Cristã.
A possível relação entre a Fraternidade Essênia e as primeiras atividades
cristãs não só despertou o interesse de centenas de eminentes clérigos e
autoridades bíblicas, mas também fez com que uma pergunta fosse feita por
milhares de estudantes da literatura mística: "Por que a história dos Essênios foi
excluída do conhecimento geral?"
A resposta é que aqueles que conheciam sua história desejaram manter a
Fraternidade Essênia envolta em mistério para evitar que seu trabalho e seus
ensinamentos fossem publicamente discutidos e eventualmente escarnecidos pelos
estudantes ou professores do cristianismo ortodoxo que se dedicaram com tanto
afinco a fazer do Cristo e do cristianismo um mistério ainda maior.
Os registros Rosacruzes sempre contiveram amplos detalhes sobre as
atividades da Fraternidade Essênia, e nenhum iniciado da Ordem Rosacruz, nenhum
estudante profundamente dedicado aos antigos mistérios, que tenha se tornado
digno de entrar em contato com os registros antigos, foi deixado na ignorância
quanto aos Essênios. Hoje, o véu pode ser afastado e alguns fatos relativos aos
Essênios podem ser revelados ao mundo, graças ao progresso feito nos estudos da
literatura oculta, e por causa do ponto de vista mais amplo adotado pela média dos
estudantes de assuntos místicos e espirituais. Por este motivo sinto-me justificado
em apresentar os seguintes fatos relativos aos Essênios1.
Em primeiro lugar, talvez seja suficiente dizer, neste breve esboço da
organização dos Essênios, que eles eram um ramo da iluminada fraternidade da
Grande Loja Branca, que nasceu no Egito nos anos que precederam Akhenaton,
Faraó do Egito e grande fundador da primeira religião monoteísta, o qual apoiou e
encorajou a existência de uma fraternidade secreta voltada ao ensino das verdades
místicas da vida.
As diversas escolas místicas do Egito, que se uniram no que constituiu a
Grande Fraternidade Branca, tomaram diferentes nomes em diferentes partes do
mundo, de acordo com o idioma de cada nação e com as peculiaridades do
pensamento religioso e espiritual do povo em geral. Verificamos que, em Alexandria,
os membros da Fraternidade adotaram o nome de Essênios. Os cientistas têm feito
consideráveis especulações quanto à origem deste termo e seu real significado.
Foram apresentadas tantas especulações insatisfatórias quanto à sua raiz que ainda
1 Nota do Editor: Descobertas arqueológicas feitas em 1946 -17 anos depois que este capítulo foi
escrito - muito fizeram para ampliar nosso conhecimento sobre os Essênios e para confirmar o que
aqui foi dito a respeito dos mesmos. Recomendamos a leitura do artigo de Edmund Wilson, publicado
em 14 de maio de 1955, na revista The New Yorker, e também seu livro Pergaminhos do Mar Morto,
publicado pela Editora da Universidade de Oxford, New York e Toronto (1955).
persistem muitas dúvidas na mente da maioria das autoridades quanto a este
aspecto. A palavra deriva realmente da palavra egípcia Kashai, que significa
"secreto". Existe uma palavra judia que tem um som semelhante, chsahi, que
significa "secreto" ou "silente"; esta palavra foi naturalmente traduzida para essaios
ou "Essênio", com o significado de "secreto" ou "místico". O próprio Josefo descobriu
que os símbolos egípcios para luz e verdade são representados pela palavra
choshen, que tem o correspondente grego "Essen". Foram encontradas referências
históricas segundo as quais os sacerdotes dos antigos templos de Éfeso tinham o
nome de Essênios. Um ramo da organização estabelecido pelos gregos traduziu a
palavra Essênio derivada do termo sírio asaya, que significa "médico", para o termo
grego therapeutes, com o mesmo significado.
Os registros Rosacruzes dizem claramente que a palavra original
pretendia descrever uma fraternidade secreta e que, embora a maioria de seus
membros se tornassem médicos e curadores, a organização era devotada a muitas
outras práticas humanitárias além da arte de curar, e que nem todos os seus
membros eram médicos.
A expansão da organização para muitas terras próximas ao Egito foi lenta
e natural, acompanhando o despertar da consciência do povo; e então vemos que a
Fraternidade Essênia tornou-se um ramo definido da Grande Fraternidade Branca,
representando as atividades externas dessa Fraternidade, que era, principalmente,
uma escola de aprendizado e instrução. Assim, por vários séculos antes do advento
da Era Cristã, a Fraternidade Essênia, um grupo de trabalhadores ativos, manteve
dois centros principais, sendo um no Egito, às margens do Lago Moeris, onde o
grande Mestre Moria-El, o Ilustre, nasceu em sua primeira encarnação conhecida, foi
educado, preparado para sua grande missão e estabeleceu a lei e o princípio do
batismo como passo espiritual no processo da iniciação. O outro centro importante
da Fraternidade Essênia foi estabelecido primeiro na Palestina, em Engaddi, perto
do Mar Morto.
Ao examinar os registros Rosacruzes referentes aos Essênios, encontrei
milhares de anotações a respeito desses dois ramos, das quais selecionei as
declarações que se seguem, por tê-las considerado as mais interessantes e mais
definidas, com relação à vida de Jesus.
O ramo da Palestina teve de enfrentar o despotismo dos governantes do
país e o ciúme da classe sacerdotal. Estas condições forçaram os essênios da
Palestina a manter um silêncio e uma solidão maiores do que costumavam guardar
no Egito. Antes de se mudarem de suas pequenas construções e do recinto sagrado
em Engaddi para as antigas edificações no Monte Carmel, sua principal ocupação,
aparentemente, era a tradução de manuscritos antigos e a preservação de tradições
e registros que constituíam a base de seus ensinamentos.
Consta dos registros que, ao chegar o momento de se transferirem de
Engaddi para o Monte Carmel, o maior problema foi o transporte secreto desses
manuscritos e registros. Felizmente para nós, eles conseguiram preservar os
manuscritos mais raros que já foram retirados do Egito, e de outras formas
preservaram as histórias e ensinamentos antigos e tradicionais. É daí que derivamos
a maior parte de nosso conhecimento dos essênios e da Grande Fraternidade
Branca. Uma descrição do seu modo de viver, e daquilo em que acreditavam e que
ensinavam, constitui, sem qualquer dúvida, uma história de profundo interesse para
todos os estudantes modernos do misticismo e da literatura sacra.
Todos os essênios do Egito e da Palestina, ou os Therapeuti, como eram
chamados em outras terras, tinham de ser descendentes arianos de sangue puro.
Este ponto é muito importante com relação aos fatos que serão revelados sobre o
nascimento e a vida do Mestre Jesus. Os essênios também estudavam os textos do
Avesta e aderiam aos princípios neles contidos, os quais davam grande importância
a um corpo saudável e uma mente poderosa. Antes que qualquer ariano apto
pudesse se tornar um Adepto da Fraternidade Essênia, tinha de ser preparado,
durante a infância, por certos professores e instrutores; crescia com um corpo sadio,
e devia ser capaz de exercer certos poderes mentais em condições de teste. Todo
candidato adulto a quem se permitia partilhar da refeição diária no prédio da
Fraternidade era designado para uma missão definida em sua existência, por
ocasião de sua iniciação, e essa missão devia ser cumprida a despeito de quaisquer
obstáculos e tentações, ainda que com o sacrifício da própria vida. Alguns decidiam
ser médicos ou curadores, outros decidiam ser artesãos, professores, missionários,
tradutores, escribas, e assim por diante. Todos os bens materiais que possuíssem
ao tempo de sua iniciação tinham de ser doados ao fundo comum, do qual todos
podiam retirar apenas o que lhes fosse necessário. A vida simples que levavam, livre
de qualquer gratificação nos prazeres comuns à população em geral, só tornava
necessário fazer uso desse fundo comum em raras ocasiões.
Imediatamente após a iniciação, cada membro passava a usar uma veste
branca composta de uma só peça de pano, e só usava sandálias quando o clima ou
as circunstâncias assim o exigissem. Sua roupagem era tão distinta e peculiar que
eles eram conhecidos entre o povo como os Irmãos de Branco. O termo Essênio não
era popularmente conhecido, e só os entendidos o empregavam. Isto explica a falta
de referências aos Essênios na maioria das histórias populares ou dos escritos da
época.
Eles viviam em construções bem cuidadas, geralmente num local fechado
e bem protegido, formando uma comunidade. Todos os seus assuntos eram
regulados por uma comissão ou conselho de juizes ou conselheiros, em número de
cem, que se reuniam uma vez por semana para regulamentar as atividades das
organizações e ouvir os relatórios dos trabalhadores do campo. Todas as
discordâncias, todas as queixas, todas as provas e tribulações eram ouvidas por
este conselho, e um dos regulamentos indica que os Essênios eram sempre
cuidadosos ao expressarem opiniões a respeito uns dos outros ou de pessoas
estranhas à organização, e que não criticavam a vida e os assuntos das pessoas
que tentavam reformar ou auxiliar. Também aderiam estritamente a uma de suas
leis: "Não julgues — para não seres julgado."
É possível apresentar aqui os artigos de fé dos Essênios, tais como estão
registrados em documentos antigos e secretos. Embora esses artigos de fé sejam
apresentados de forma ligeiramente diferente nos vários ramos da organização
essênia, estão indubitavelmente baseados nos artigos de fé adotados pela Grande
Fraternidade Branca, ao tempo em que foi estabelecida a organização essênia.
Número Um: Deus é princípio; Seus atributos só se manifestam através
da matéria, ao homem exterior. Deus náb é uma pessoa, nem se revela ao homem
exterior em qualquer forma de nuvem ou glória. (Note a semelhança deste artigo
com a declaração de João IV:24: "Deus é Espírito, e os que O adoram têm de adorálo
em espírito e verdade.")
Número Dois: O poder ou a glória do domínio de Deus não aumenta nem
diminui segundo a crença ou descrença do homem; e Deus não põe de parte Suas
leis para agradar a humanidade.
Número Três: O ego no homem é de Deus, uno com Deus, sendo
conseqüentemente imortal e eterno.
Número Quatro: As formas do homem e da mulher são manifestações da
verdade de Deus, mas Deus não está manifesto na forma do homem ou da mulher
como um ser.
Número Cinco: O corpo do homem é um templo no qual habita a alma,
por cujas janelas vemos as criações e evoluções de Deus.
Número Seis: Por ocasião da transição ou separação do corpo e da alma,
a alma entra naquele estado secreto em que nenhuma das condições da terra tem
qualquer encanto, mas a brisa suave e o grande poder do Espírito Santo oferecem
conforto e consolo para os extenuados ou ansiosos que estão à espera de novas
atividades. Aqueles, entretanto, que fracassam em utilizar as bênçãos e dons de
Deus, que seguem os ditames do tentador, dos falsos profetas e das ardilosas
doutrinas dos iníquos, permanecem no seio da terra até que sejam libertos dos
poderes aprisionadores do materialismo, purificados e enviados ao reino secreto.
(Isto explica o antigo termo místico "preso à terra", com referência àqueles que ainda
ficam escravizados a tentações materiais por algum tempo após a transição.)
Número Sete: Guardar o dia santo da semana, para que a alma possa
comungar em espírito e ascender e entrar em contato com Deus, descansando de
todos os labores e usando de bom discernimento em todas as ações.
Número Oito: Manter silêncio nas disputas, fechar os olhos diante do mal, e fechar
os ouvidos aos blasfemadores. (Isto equivale ao original da lei oriental, "não falar o
mal, não ver o mal e não ouvir o mal".)
Número Nove: Preservar as doutrinas sagradas contra os profanos,
jamais falar delas àqueles que não estejam preparados ou qualificados para
compreendê-las, e estar sempre pronto a revelar ao mundo o conhecimento que
possa capacitar o homem a elevar-se a maiores alturas.
Número Dez: Permanecer fiel às amizades e a todas as relações
fraternas, até a morte; em qualquer circunstância ligada à confiança, nunca abusar
do poder ou do privilégio recebido; e em todas as relações humanas, ser benévolo e
capaz de perdoar, mesmo aos inimigos da fé.
Todos os departamentos da organização eram supervisionados por
administradores encarregados das coisas materiais entregues ao fundo comum por
cada membro. Este fundo comum era chamado de fundo dos pobres, sendo usado
para aliviar os sofrimentos dos desfavorecidos em todas as terras. Isto nos faz
recordar o que disse Mateus XIX:21: "Vai vender teus bens e dá aos pobres, ... e sé
meu seguidor."
Abrigos para o cuidado de pobres e doentes foram estabelecidos pelos
Essênios em várias comunidades, especialmente em períodos de fome ou
epidemias. Esses locais eram chamados Bethsaida. Foi deste tipo de trabalho que
se originaram os abrigos e hospitais que se tornaram comuns séculos mais tarde.
Uma equipe especial de pessoas ligadas a esses locais passou a ser conhecida pelo
nome de Hospitaleiros. Nisto encontramos a origem de outro ramo da Fraternidade,
o qual tornou-se, mais tarde, uma organização mais ou menos separada. Os
Essênios também estabeleceram albergues em várias comunidades e na entrada da
maioria das cidades havia um lugar chamado de Portão, onde os estranhos ou
aqueles que necessitavam de alimento ou orientação recebiam cuidados
temporários. Recentes descobertas em Jerusalém revelaram a existência de um
Portão conhecido como Portão Essênio.
Os Essênios não gostavam de viver em cidades e se estabeleceram em
comunidades de pequenas aldeias, fora dos limites ou muros de quase todas as
cidades das regiões onde existiram. Nessas comunidades, cada membro tinha sua
pequena casa com quintal, e os solteiros moravam numa casa comunitária. O
casamento não era proibido entre os Essênios, ao contrário do que geralmente se
acredita, mas seus ideais relativos ao matrimônio eram muito elevados, e apenas os
nubentes bem harmonizados e cuja união fosse aprovada pelos grandes oficiais
podiam se casar.
As mulheres podiam associar-se à Fraternidade e em poucas
oportunidades tinham permissão para entrar nos graus iniciais do trabalho. Isto
ocorria não porque os Essênios acreditassem que as mulheres fossem inferiores aos
homens em capacidade mental ou espiritual, mas porque o ramo Essênio da Grande
Fraternidade Branca era uma organização estritamente masculina, destinada a
realizar um trabalho próprio de homens em cada comunidade. Entretanto, mães,
irmãs e filhas dos membros de cada comunidade essênia tinham permissão para
participar da comunidade e tornarem-se membros associados. As mulheres
solteiras, e que não desejavam se casar, freqüentemente adotavam crianças órfãs e,
desta forma, realizavam um trabalho humanitário para a organização.
Ao considerarmos seus assuntos mais privativos, vemos que os essênios
não tinham criados, pois a servidão era considerada contrária à lei; cada casa tinha
de ser cuidada pelos seus moradores. Algumas regras e regulamentos registrados
em documentos Rosacruzes levam a crer que as idéias essênias, no que se refere a
servidores e à servidão eram bastante fanáticas, comparadas com o nosso moderno
ponto de vista. Devemos lembrar que, ao tempo em que essas regras foram
adotadas, a maioria dos serviçais de qualquer casa rica, ou os servidores de reis e
potentados de qualquer espécie, eram como escravos, e, naturalmente, para os
Essênios todo homem e mulher ora um ser livre, sendo a escravidão e a servitude
de qualquer tipo absolutamente proibidas. Em cada comunidade, todos participavam
de qualquer trabalho referente à comunidade como um todo, e todos tinham sua
cota de tarefas humildes a serem executadas. Os novos iniciados tinham de
trabalhar nos campos e, em certas ocasiões, serviam às mesas comunitárias, na
cozinha e às mesas dos albergues.
Assim como ocorreu com outros ramos da Grande Fraternidade Branca,
os Essênios nunca fizeram contratos ou acordos que exigissem juramentos ou
qualquer forma de documento escrito. A respeito deles, tornou-se de conhecimento
geral que sua palavra valia tanto quanto qualquer acordo ou contrato por escrito.
Eles possuíam regras e regulamentos que regiam suas vidas, os quais eram bem
conhecidos de todos aqueles com quem tinham contato; os mais altos potentados da
terra sabiam que os Essênios não podiam se prender a quaisquer juramentos, mas
eram extremamente responsáveis quando empenhavam sua palavra numa
promessa. O próprio Josefo, ao escrever sobre os Essênios, em 146 a.C., informou
que eles tinham sido isentados da necessidade de jurar lealdade a Herodes. É mais
que certo que eles se negariam a fazer qualquer promessa em nome de Deus, pois,
para eles, como para os judeus que deles herdaram a idéia, o nome de Deus só
podia ser mencionado de maneira sagrada nos templos e, em outras ocasiões, o
nome de Deus não podia ser pronunciado. Se houvesse uma discórdia com
estranhos, os Essênios pagavam qualquer preço que lhes fosse exigido e faziam os
sacrifícios que fossem necessários para evitar discussões ou relacionamentos
estremecidos. Por esta razão, os Essênios eram bem considerados pelos fariseus e
outras seitas da Palestina, embora essas outras seitas criticassem severamente as
práticas religiosas dos Essênios.
Falando de juramentos, entretanto, tenho permissão para apresentar aqui
o juramento oficial prestado pelos iniciados, o qual era o único juramento admissível.
Era feito em nome da honra do iniciado, ao entrar ele no grau final de iniciação, que
poderíamos chamar de quarto grau de seu progresso na organização. O juramento
era o seguinte:
"Prometo, na presença de meus superiores e dos Irmãos da Ordem,
sempre praticar a humildade diante de Deus e mostrar justiça a todos os homens;
não causar mal a qualquer criatura viva, por minha própria vontade ou a mando de
outros; a sempre abominar o mal, e prestar auxílio com retidão e justiça; devotar
fidelidade a todos os homens, particularmente àqueles que sejam meus superiores
em sabedoria; e, ao ser colocado em posição de autoridade, jamais abusarei dos
privilégios ou do poder que me for temporariamente outorgado, nem tentarei
humilhar outros pela exibição mundana de minha capacidade mental ou física; a
verdade sempre terá a minha veneração e me esquivarei dos que se comprazem na
falsidade; manterei as mãos limpas de qualquer furto, e manterei a alma livre da
contaminação do lucro material; dominarei minhas paixões, e jamais me entregarei à
ira ou a qualquer demonstração exterior de emoções malévolas; jamais revelarei as
doutrinas secretas de nossa Fraternidade, mesmo com o risco da própria vida, a não
ser àqueles que forem dignos; jamais comunicarei essas doutrinas de outra forma
que não seja a forma em que foram por mim recebidas; nada acrescentarei ou
subtrairei dos ensinamentos, e sempre tentarei preservá-los em sua prístina pureza,
e defenderei a integridade dos livros e registros de nossa Ordem, os nomes dos
Mestres, Legisladores e de meus superiores."
Após ter o iniciado alcançado o que poderíamos chamar de quarto grau e
ter feito este juramento, era ele admitido à mesa comunal para participar da única
refeição simbólica do dia, quando a meditação e a contemplação, assim como a
discussão dos problemas do trabalho, formavam uma parte do período em questão.
É interessante notar que toda a alimentação dos Essênios era preparada
de acordo com regras e regulamentos contidos nos documentos antigos, de modo
científico, porém simples; embora fossem usadas verduras e muitas formas de
alimentos crus, não é verdade que a carne fosse proibida. Nunca ocorria qualquer
forma de excesso no comer ou banquetes e, certamente, as regras da moderação
em todas as coisas também eram aplicadas ao comer e beber; por isto não havia
embriagues nem gula.
Os Essênios raramente participavam de discussões públicas, e nunca
participavam de discussões sobre religião ou política. Geralmente se mantinham
calados enquanto os outros falavam, e o silêncio era, aparentemente, o seu lema.
Eram bem treinados no uso da voz e entoação de encantamentos, e conheciam tão
bem o valor dos sons vocálicos que, através de treinamento, adquiriam uma voz
suave, mesmo em conversações comuns. Por este motivo, eram conhecidos como
os homens de fala suave.
É muito natural que os Essênios tivessem adquirido não só uma
personalidade magnética, mas também um corpo sadio, roupas limpas e hábitos
salutares, mas também que tivessem desenvolvido auras tão belas que em muitas
ocasiões se tornavam visíveis aos profanos, o que confundia principalmente os
judeus, que desconheciam o desenvolvimento da natureza mística, muito embora
suas tradições e sua religião contivessem muitas leis místicas maravilhosas que eles
não aplicavam de maneira prática.
Todos os Essênios costumavam lavar as mãos e os pés ao entrarem em
suas casas ou na casa de outras pessoas, e também purificavam os pés e as mãos
antes de qualquer cerimônia e de cada prece diária. Em seus lares individuais, eles
passavam longo tempo diante do altar em seu sanctum, ou estudando manuscritos e
livros raros, os quais circulavam entre eles de acordo com seu grau de progresso.
Eram especialmente bem versados em astrologia, astronomia elementar, história
natural, geometria, química elementar e alquimia, religião comparada, misticismo e
leis naturais.
Os que eram médicos, na organização, evidentemente despertavam a
curiosidade dos povos da Palestina acostumados aos métodos de cura daquela
terra, os quais incluíam sortilégios, encantamentos pronunciados com voz aguda, a
recitação de fórmulas misteriosas, instrumentos grosseiros e o uso de drogas
poderosas. Os Essênios, por sua vez, falavam suavemente com os pacientes e
usavam certos sons vocálicos sem qualquer evidência de representarem uma
fórmula, e, freqüentemente, faziam as maiores curas pela simples aposição de mãos
ou instruindo o paciente a retirar-se para o silêncio do lar e dormir, enquanto a cura
era conduzida metafisicamente.
Todos os Irmãos Essênios e as mulheres a eles associadas prometiam
educar seus filhos de acordo com os ensinamentos e princípios que constituíam a
base da crença essênia, e a criar cada filho dentro do escopo da organização até o
décimo segundo ano de vida, quando a criança era aceita condicionalmente até
completar vinte e um anos, época em que os varões eram admitidos ao primeiro
grau, atingindo o quarto grau por volta dos trinta e quatro anos. As mulheres eram
admitidas como membros associados aos vinte e um anos, e permaneciam nessa
categoria pelo resto de suas vidas, se provassem ser dignas por seu modo de viver.
Apenas ocasionalmente um Essênio recebia permissão para falar
publicamente ou fazer milagres em público, e mesmo assim não com fins de
demonstração, mas apenas como prestação de um serviço. Aqueles dentre os
Essênios que tinham passado pelo maior número de encarnações e por isto eram
mais evoluídos, eram escolhidos como líderes e, dentre eles, uni era escolhido em
cada ciclo para sair pelo mundo e organizar o trabalho essênio em uma nova terra.
Os Essênios esperavam ansiosamente pela vinda de um grande Salvador
que nasceria dentro da organização, e seria a reencarnação do maior de seus
líderes do passado. Através de seu conhecimento altamente desenvolvido e do
contato intimo com o Cósmico, eles estavam bem informados sobre os
acontecimentos futuros; a literatura da Fraternidade Essênia e a literatura de muitos
países contêm referências à existência de profetas entre os Essênios. Manem, por
exemplo, foi um de seus profetas, famoso por profetizar que Herodes se tornaria rei.
Ao que parece, havia um regulamento ou lei não escrita, entre os
Essênios, segundo a qual nenhum membro deveria se dedicar a qualquer tarefa
diária que fosse destrutiva, mas, sempre construtiva. Assim, verificamos que a lista
de Essênios proeminentes inclui tecelões, carpinteiros, viticultores, jardineiros,
mercadores, e os que contribuíam para o bem-estar do público. Nunca existiu na
organização o armeiro, o açougueiro ou aquele que se dedicasse a qualquer prática
ou negócio ligado à destruição do menor ser vivo.
Deve estar claro aos leitores que a Fraternidade Essênia pareceria ter
sido uma das seitas da Palestina e que, portanto, deveria ser classificada como tal
pelos judeus e pelas autoridades governamentais. É por isto que freqüentemente
encontramos, em registros recentemente descobertos, referências aos Essênios
como uma das seitas da Palestina. Seria natural, para os judeus, considerar os
Essênios como organização religiosa ao invés de fraternal ou mística, e, sem dúvida,
como uma organização contrária às práticas e doutrinas judaicas. Em tais condições,
nada mais natural que os Essênios estabelecessem seus lares em certas
comunidades onde viviam seus iguais, onde poderiam encontrar o companheirismo
que viesse fortalecer seus interesses.
Os Essênios não eram judeus por nascimento, raça ou religião e
freqüentemente foram chamados Gentios em muitos escritos sagrados, inclusive na
Bíblia Cristã.
NOTA DO EDITOR: Evidências que reforçam o teor da atividade cultural dos membros da
Fraternidade Essênia foram apresentadas em um relatório publicado no New York Times de 2 de abril
de 1953. O mesmo se refere à descoberta de importantes manuscritos às margens do Mar Morto, 25
milhas a leste de Jerusalém. Dele retiramos a seguinte citação: "O arqueólogo (G. Lankester Harding,
Diretor de Antigüidades, na Jordânia) disse que os pergaminhos foram encontrados há vários meses
em uma caverna próxima às ruínas de uma colônia hoje conhecida pelo nome de Khirbet Qumran.
Ele acrescentou que parecia bastante certo que a colônia havia sido um lar dos Essênios há cerca de
1.900 anos e que os pergaminhos provieram de sua biblioteca, tendo sido escondidos na caverna
provavelmente por motivos de segurança." Esta nova descoberta inclui documentos até agora
desconhecidos (Apócrifos) e "descrições da conduta e da organização dos Essênios... que viveram
na Palestina do segundo século a.C. até o segundo século d.C. Os Essênios se distinguiam por seu
estrito ascetismo e por características como a posse comunal da propriedade, a prática da caridade e
a busca da virtude".
estou gostando muito de ler este livro, que me apareceu não sei como nem exatamente quando.
ResponderExcluirtrazendo o que eu tinha de dúvida sobre o tempo em que a Bíblia se calou, a juventude de Cristo