A VINGANÇA DO "GUARDA LIVROS" POR ANTÔNIO SILVINO - POR SÁLVIO SIQUEIRA


A VINGANÇA DO “GUARDA-LIVROS” POR ANTÔNIO SILVINO

Por Sálvio Siqueira

Naquele tempo, 1903, para fazer-se o deslocamento de um local para outro, entre povoações no sertão do Nordeste, era uma penúria. Não havia estradas de fato interligando os distintos lugares e a população rompia léguas e léguas a pé para alcança-los.

Devido à falta de estrutura pavimentada é que os bandos de bandoleiros se deslocavam, sorrateiros, pelos sertões nordestinos quase sempre sem serem incomodados pela Força Pública. Quando havia um contingente em uma povoação, essa se resumia a três ou quatro praças incluindo seu comandante. Mais um dos vários motivos para ter-se expandido tanto o crime no interior dos Estados.

Os bandos eram nômades. Não tinham, nem podiam ter lugares para ficarem acampados por muito tempo. Então, viveram num vai e volta, num entra e sai constante entre os vários lugares cobertos por suas rotas. Determinaram, mentalmente, um roteiro e seguiam, por veredas distintas, numa incansável viagem sem fim. Era necessário fazerem essa trilha para o abastecimento normal da caterva.

Os grandes chefes cangaceiros tiveram, por obrigação e sobrevivência, essa determinação. Dentre as pessoas dos lugares ‘visitados’ tinham aquelas de apresso. Não as incomodavam, em contra partida, não eram incomodados por elas, pelo contrário, eram favorecidos por suas ações auxiliares.

Manoel Batista de Moraes, o chefe cangaceiro Antônio Silvino, famoso “Rifle de Ouro”, citado em várias literaturas como o “Capitão-do-Mato”, tinha um amigo chamado Adelino que era funcionário de um grande comerciante na povoação denominada Alagoa Grande. Adelino era como um contador do comerciante Alexandre Cabral de Vasconcelos. Talvez por manter esse tipo de amizade, Adelino passa a ser mal visto pelo sargento Manoel da Paz.

Manoel da Paz, apesar do nome, era tido como uma pessoa arrogante e arbitrária em suas funções como detentor da Lei e da Ordem. E, por razões óbvias, mata o “Guarda-livros” Adelino, segundo um informante, friamente.

Tempos depois, em uma das grandes viagens feitas pelo chefe cangaceiro da “Colônia”, fica a par do acontecido com seu amigo por um tangerino encontrado na estrada. Silvino fica revoltado e planeja dar uma satisfação a família do amigo, vingando sua morte. Já que estava nas redondezas, veria como fazer para pegar de jeito o sargento.

Colhendo informações de onde o praça passava, o “Rifle-de-Ouro” escolhe o local para fazerem parada e esperar. A espera não é longa. Estando numa estrada próximo ao povoado de Mogeiro eis que por ela vem exatamente o motivo da sua estadia naquele local.

Um de seus cangaceiros, tendo sido mandado ficar a espreita, nota a aproximação de um cavaleiro e o reconhece passando a informação ao seu chefe. Ao aproximar-se, o animal e abordado e o cavaleiro obrigado a desmontar. O “Capitão-do-Mato” reconhece de imediato quem realmente era. De imediato começa a fazer perguntas sobre o porquê de ele ter assassinado o pobre do “Guarda-livros”.

Não fazendo conta das indagações do chefe bandoleiro, o militar passa a encarar, desafiadoramente, o interpelador. Essa atitude deixou o cangaceiro mais irritado que passa a dizer desaforos ao militar. O sargento, não demonstrando algum temor, começa a retrucar as palavras e a coisa esquenta por demais da conta. Subitamente o sargento Manoel da Paz fez menção de sacar sua arma.

Ao estudarmos o fato, pareceu-nos que, nitidamente, o chefe bandoleiro esperava exatamente essa reação do militar. No momento em que o sargento eleva a mão em busca da sua arma, Antônio Silvino saca velozmente a sua e o mata com um tiro certeiro entre os olhos.

No mesmo instante o corpo do sargento Manoel da Paz despenca e toca o chão empoeirado sem vida. Nesse momento o chefe cangaceiro vocifera:

“-Eu sabia que você não era de nada, cabra safado!”. (SD. 2012)

De imediato, após o som do estampido haver se propagado Mata Branca adentro, os curiosos começam a se juntar em torno do local. Antônio Silvino determina as pessoas que estão em volta que deixassem o corpo do sargento naquele loca por três dias. Ainda determinou que o corpo, depois de três dias, ao ser enterrado, não deveria ser dentro do cemitério.

“-Quando isso estufar e começar a apodrecer, enterrem! Mas não botem esse infeliz no cemitério! É uma profanação enterrar um bandido desse tipo em lugar sagrado!” (SD. 2012)

Ao passarem os três dias, o corpo do sargento Manoel da Paz foi enterrado do lado de fora, ao lado, do cemitério.

Fonte/foto “Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, O Mito” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 2ª edição. 2012.

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