O BELMONTENSE LUIZ DO TRIÂNGULO COMO PERSONAGEM DO ROMANCE DA PEDRA DO REINO E O PRÍNCIPE DO SANGUE DO VAI-E-VOLTA - Por Valdir José Nogueira de Moura

 

O BELMONTENSE LUIZ DO TRIÂNGULO COMO PERSONAGEM DO  ROMANCE DA PEDRA DO REINO E O PRÍNCIPE DO SANGUE DO VAI-E-VOLTA

Luiz do Triângulo era descendente do tenente Antônio Pereira da Silva (irmão do Comandante Superior Manoel Pereira da Silva) e de dona Ana Vicência da Conceição proprietários da fazenda Campo Alegre na região da Serra do Catolé, no antigo latifúndio das C'rôas, município de Belmonte. Este casal deixou 11 filhos, sendo que uma das filhas cujo nome Jacinta Pereira da Silva, falecida no ano de 1915, foi casada com Francisco Nunes de Souza sendo pais de quatro filhos dentre os quais Joaquina Nunes de Souza que casou com Francisco Ramos de Souza, residente na fazenda Cacimba Nova, também na região da Serra do Catolé. 

Filhos de Joaquina Nunes de Souza e Francisco Ramos de Souza:

1 – Raimunda Pereira de Souza, solteira.

2 - João Nunes de Souza, falecido em 3/3/1927 aos 36 anos de idade, vitima de ferimento de bala, casado com Maria Senhora de Souza.

3 – Joaquim Nunes de Souza casado com Raimunda Pereira de Souza (Sinharinha). Esse casal é pai de Luiza Pereira de Souza que casou com seu tio materno Antônio Pereira de Souza, o famoso Antônio do Açudinho (que era irmão de Vicente de Souza França). Dizem que Luiza foi herdeira da riqueza deixada por Zezinho do Reino, seu tio paterno.

4 – Luiz Pereira de Souza, o famoso Luiz do Triângulo. Este andou em armas, com vários primos e amigos, dos últimos anos da década dos 10 até um pouco além do meado dos 20. Também conhecido como Luiz da Cacimba Nova, fazenda localizada em Belmonte em que nasceu e se criou, tinha entre seus homens de maior confiança os primos Chiquito, Chocho, Torquato, Teotônio da Silveira e José Bizarria. Entre 1919 e 1922, período final de atuação do seu parente Sinhô Pereira, ligou-se a este por espaços mais ou menos longos, segundo a necessidade do chefe da família em armas. No entanto a apoteose da carreira de guerrilheiro de Luiz do Triângulo veio mesmo foi em 1930, quando foi convidado pelo seu ainda parente coronel José Pereira Lima para ser um dos “capitães” da revolução de Princesa na Paraíba.

Enigmático, estrategista militar, a ponto de liderar mais de 500 revoltosos em armas, Luiz do Triângulo, durante a “Guerra”, foi surpreendido com o sequestro da sua esposa Antônia Pereira de Souza, Mitonha, pelo sargento da PM Clementino Quelé e sua volante. 

O sargento Quelé raptara não apenas Mitonha, mas também Alexandrina Pereira Diniz, dona Xandu, esposa de Marcolino Diniz, um dos chefes da revolta.

O objetivo do sargento Quelé era tomar mulheres e crianças na vila de Patos de Irerê para usá-las como “escudos humanos” na presunção de que os revoltosos não disparariam suas armas contra a polícia; provavelmente levá-las para a capital do estado com a finalidade de forçar uma rendição por parte dos rebeldes.  

Sua esposa Antônia Pereira de Souza (Mitonha), era sua prima legítima, pois as mães eram irmãs.

5 – José Pereira de Souza conhecido como ZEZINHO DO REINO. Era assim conhecido porque residia em um sítio na Pedra do Reino. 

O imortal Ariano Suassuna quando escreveu o épico “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do sangue do vai-e-volta”  inseriu Luiz do Triângulo como personagem de sua famosa obra:

“Como se recorda, o Condestável do Reino era Luís Pereira de Sousa, ou Luís do Triângulo, o mesmo que comandava incógnito, as tropas do rapaz do cavalo branco. Soube que ele, sendo descendente do Comandante Manuel Pereira e do Barão do Pajeú, era o dono atual das terras onde ficavam as torres de pedra do nosso Castelo, sagrado, soterrado e encantado. Só podia ter sido outro desígnio da Providência que, exatamente a Serra do Reino, tivesse ido cair na mão daquele homem, atualmente, amigo e aliado nosso. Resolvi imediatamente ir à Serra, para conhecer meu Castelo. Eu me calara a respeito da Pedra do Reino: apesar de meu amigo, Luís do Triângulo ser um Pereira de pura raça, e bem podia resolver liquidar esta vergôntea da Raça real dos Quadernas. Aproximava-se 1935, ano importantíssimo, porque marcava o início daquilo que inúmeras profecias sertanejas chamavam "0 Século do Reino Encantado".

Na minha viagem ao Pajeú estava Luíz do Triângulo e os outros Pereiras de braços abertos para me receber.

Indagava se eu ainda estava lembrado do Chefe atual da família Pereira, Manuel Pereira Lins, mais conhecido como Né da Carnaúba. Comunicava-me que entrara em entendimento com ele, que me receberia, como hóspede. Daí, eu seria finalmente encaminhado para a Vila de Bernardo Vieira, antiga Sítios Novos, onde ele, Luís do Triângulo, estaria me esperando Eu me recordava perfeitamente do velho Fidalgo, Dom Manuel Pereira Lins, Senhor da Carnaúba. Como membro do Estado-Maior do Rei Dom José Pereira, tinha sido um dos Doze Pares e um dos Grandes do Reino de Princesa. Era um homem guerreiro e perigoso em tempo de brigas, mas hospitaleiro e manso em tempo de paz. 

Chegando ao Pajeú, achariam meio de fazer com que os próprios Pereiras me levassem à Pedra do Reino. Seria uma vitória que eles conduzissem para lá aquele que, tomado como simples Escrivão, ex-seminarista e Bibliotecário, era, de fato, o Rei do Quinto Império, Dom Pedro Dinis Quaderna, o Astrólogo, ou Dom Pedro IV, o Decifrador, como sou mais conhecido.”

(Ariano Suassuna – Romance da Pedra do Reino)Na referida obra, o autor também cita explicitamente Luiz do Triângulo envolvido com o episódio da independência de Princesa:

“Luís do Triângulo era parente de Dom José Pereira Lima, aquele mesmo Fidalgo sertanejo que, em 1930, se rebelara contra o Governo, tornando-se Rei Guerrilheiro de Princesa, proclamando a independência do município com hino, selo, bandeira, Constituição e tudo, subvertendo o Sertão da Paraíba à frente do seu exército de dois mil homens de armas, numa guerrilha heroica que o governo do Presidente João Pessoa em vão tentou vencer com sua Polícia. Nesse Reino, ou Território Livre, de Princesa, o Rei era Dom José Pereira Lima, o Invencível, e Luís do Triângulo, então com trinta e dois anos, era o Condestável e Chefe do Estado-Maior”.  (Ariano Suassuna - RPR, folheto III, p. 25).

Valdir José Nogueira de Moura

A Pedra do Reino


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