Memórias Póstumas de Brás Cubas. Machado de Assis. Primeira edição.
Revista Brazileira, fase Midosi.
Março a dezembro de 1880.
"Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes."
Em março de 1880 os leitores da Revista Brazileira se depararam com um texto estranho: as memórias de um tal Brás Cubas. Mas memórias póstumas, como assim? Ele escreveu após morrer e alguém transcreveu? O Rio estava com a novidade de um certo "espiritismo", só podia ser isso. Machado aproveitou que o nome do autor vinha apenas ao final do texto para causar seu impacto. Saindo de sua crise existencial, abandonando o romantismo de Yayá Garcia, Machado abraçava o realismo com força total.
De março a dezembro daquele ano os leitores foram ávidos comprar a revista. Os próximos capítulos eram imperdíveis, como as séries de hoje.
Inicialmente citando "Como gostais" de Shakespeare, a primeira edição não trazia ainda a mais famosa dedicatória de nossa literatura, "Ao verme que primeiro roeu as carnes frias...".
A primeira edição EM LIVRO saiu já em 1881, e a segunda apenas 15 anos depois, em 1896, após insistência de Machado. A folha de rosto trouxe impresso "terceira edição", porque era a segunda apenas em livro. E Machado em seu prólogo também explica que "a primeira edição foi feita em pedaços na Revista Brazileira em 1880". Portanto sempre que a edição de 1881 é citada, deveria vir com o esclarecimento: em livro. Não é preciosismo de bibliófilo - as edições são diferentes, Machado reordenou, suprimiu e corrigiu trechos.
E Memórias Póstumas "venceu" a disputa apertada com GSV. Pode-se discutir a posição no pódio, por conteúdo ou razões técnicas. Para nós, pessoalmente, a "teoria das edições" do início do texto, mostra o gênio: o homem é uma errata viva, tentando se corrigir a cada novo episódio da vida, ou edições da existência.
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