PRIMEIROS CANTOS - GONÇALVES DIAS

Em 1846, Gonçalves Dias (1823-1864) imprime os seus _Primeiros Cantos_ no Rio de Janeiro. O volume se divide em duas partes. A primeira, com apenas sete textos, intitulava-se "Poesias diversas".
O livro mereceu crítica muito elogiosa de Alexandre Herculano. O escritor português reconhecia em Gonçalves Dias um grande poeta e saudava nele o progresso literário do Brasil, a que opunha a degeneração da literatura de seu próprio país. Lamentava, apenas, que as "Poesias americanas" fossem tão poucas.
O que era programa ou promessas na geração precedente torna-se realização na obra de Gonçalves Dias, que nos deu não só grande poesia indianista mais ainda uma verdadeira linguagem poética romântica. O poema com que se abrem os Primeiros Cantos, a "Canção do exílio", não apenas é o mais conhecido poema brasileiro — é o primeiro, desde Tomás Antônio Gonzaga, a recuperar um tom que, sem ver vulgar, é coloquial, e um arranjo sintático que, sem rebuscamento e sem esforço aparente, obtém das palavras uma musicalidade quase encantatória. Alia-se a essas características um forte sentimento de apego à terra Natal e ter-se-à a razão da imensa voga do poema, que teve versos incorporados à letra do Hino Nacional e à canção dos combatentes brasileiros na Segunda Guerra Mundial.
Paulo Franchetti.
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O CANTO DO GUERREIRO

I

Aqui na floresta

Dos ventos batida,

Façanhas de bravos

Não geram escravos,

Que estimem a vida

Sem guerra e lidar.

- Ouvi-me, Guerreiros.

- Ouvi meu cantar.

II

Valente na guerra

Quem há, como eu sou?

Quem vibra o tacape

Com mais valentia?

Quem golpes daria

Fatais, como eu dou?

- Guerreiros, ouvi-me;

- Quem há, como eu sou?

III

Quem guia nos ares

A frecha imprumada,

Ferindo uma presa,

Com tanta certeza,

Na altura arrojada

Onde eu a mandar?

- Guerreiros, ouvi-me,

- Ouvi meu cantar.

IV

Quem tantos imigos

Em guerras preou?

Quem canta seus feitos

Com mais energia?

Quem golpes daria

Fatais, como eu dou?

- Guerreiros, ouvi-me:

- Quem há, como eu sou?

V

Na caça ou na lide,

Quem há que me afronte?!

A onça raivosa

Meus passos conhece,

O imigo estremece,

E a ave medrosa

Se esconde no céu.

- Quem há mais valente,

- Mais destro do que eu?

VI

Se as matas estrujo

Co os sons do Boré,

Mil arcos se encurvam,

Mil setas lá voam,

Mil gritos reboam,

Mil homens de pé

Eis surgem, respondem

Aos sons do Boré!

- Quem é mais valente,

- Mais forte quem é?

VII

Lá vão pelas matas;

Não fazem ruído:

O vento gemendo

E as malas tremendo

E o triste carpido

Duma ave a cantar,

São eles - guerreiros,

Que faço avançar.

VIII

E o Piaga se ruge

No seu Maracá,

A morte lá paira

Nos ares frechados,

Os campos juncados

De mortos são já:

Mil homens viveram,

Mil homens são lá.

IX

E então se de novo

Eu toco o Boré;

Qual fonte que salta

De rocha empinada,

Que vai marulhosa,

Fremente e queixosa,

Que a raiva apagada

De todo não é,

Tal eles se escoam

Aos sons do Boré.

- Guerreiros, dizei-me,

- Tão forte quem é?

O Canto

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