Como encontrar um papa desaparecido ? ( Do livro: A História Negra dos Papas, de Brenda Ralph Lewis



 Houve tantos papas mutilados, envenenados, assassinados ou eliminados de outra maneira qualquer que, quando um deles em particular desaparecia para nunca mais ser visto, o mais natural era

percorrer-se uma lista de explicações violentas possíveis para tentar descobrir o que lhe acontecera. A morte por estrangulamento no cárcere era uma das mais frequentes. O papa desaparecido

teria sido horrivelmente desfigurado e por isso deixara de poder apresentar-se em público? Teria metido o tesouro do papado ao bolso e desaparecido com ele? Ou seria melhor procurá-lo nos

bordéis e noutros lugares de má nota para ver se andava perdido por aí? Muitas vezes não havia respostas claras e as explicações eram deixadas a cargo de boatos e rumores.

Os fins violentos dos papas durante o período da pornocracia papal foram de uma variedade surpreendente. Por exemplo, em 882, um papa, João VIII, não se despachou o suficiente a morrer.

para o gosto dos que lhe administraram veneno com o fim de o matar. Impacientes, os seus assassinos esmagaram lhe o crânio com martelos para lhe apressar o fim. Um papa do século X,

Estêvão IX, foi horrivelmente mutilado. Cortaram- -lhe os lábios, a língua e as mãos e arrancaram-lhe os olhos. O mais surpreendente é que o infeliz tenha sobrevivido, embora nunca mais pudesse

mostrar o rosto em público. O papa Bento V fugiu para Constantinopla em 964 depois de ter seduzido uma jovem, e de caminho levou o tesouro papal. Era sem dúvida um homem pródigo, visto que gastou o dinheiro antes do fim do ano e regressou a Roma. Em breve voltou aos maus e velhos hábitos,

mas acabou por ser assassinado por um marido violento, que o esfaqueou mais de cem vezes antes de atirar o seu corpo para um esgoto.

Um outro papa, Bonifácio VI, foi eleito para o trono de São Pedro embora, enquanto padre, tenha sido destituído duas vezes por comportamento imoral. Como tantas vezes sucede com acontecimentos que perduraram na memória em tempo suficiente para se poderem formar lendas em seu redor, Bonifácio ou morreu de gota ou foi envenenado ou deposto e exilado para dar lugar a outro papa, Estêvão VII. Em qualquer dos casos, Bonifácio VI sumiu-se da história com rapidez suspeita: o pontificado durou apenas quinze dias. Depois do seu desaparecimento, o sucessor,

Estêvão, assenhoreou-se dos muitos poderes e privilégios do papado em benefício dos seus patrocinadores, a poderosa casa de Spoleto, do centro de Itália, e da castelã que a dominava, a duquesa Agiltrude, a instigadora do escandaloso sínodo do cadáver, em 897. Certo é que, por volta do século IX, o papado e os papas tinham-se tornado os joguetes de famílias nobres como os Spoleto, que dominavam, entre outras, as cidades de Veneza, Milão, Génova, Pisa, Florença e Siena. Graças à sua riqueza e influência, bem como às ligações com as milícias armadas, estas famílias formavam o que podemos descrever como uma aristocracia feudal. Em geral eram gente violenta, que não hesitava em usar da maior crueldade para se apoderar do cargo mais prestigiado do mundo cristão e para o dominar. No entanto, depois de adquirido, o seu poder podia ser efémero, porque os pontificados dos seus protegidos, como todos os da época, eram de muito curta duração.

Entre 872 e 904, por exemplo, houve 24 papas. O pontificado mais longo durou uma década e os quatro seguintes duraram à volta de um ano. Nos nove anos entre 896 e 904 houve nove papas, tantos como o total de pontífices eleitos ao longo de todo o século XX. Isto significa, como é óbvio, que a sede do papado, a cidade de Roma, estava em constante turbulência, uma vez que a luta para dominar o trono de São Pedro recomeçava constantemente.

Fonte : Do livro : A HISTÓRIA NEGRA DOS PAPAS - Brenda Ralph Lewis



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