O BOTÂNICO INGLÊS GEORGE GARDNER NO PIAUHY - Ano de 1839 -Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio
O BOTÂNICO INGLÊS GEORGE GARDNER NO PIAUHY - Ano de 1839. Foi recebido em Oeiras pelo Presidente da Província, o Barão da Parnaíba. Gardner, relata o seguinte: “(...) Trazendo comigo várias cartas de recomendação para o barão da Parnaíba, presidente da província, ao entrar na cidade de Oeiras na manhã de 12 de março de 1839, inquiri da sua residência; um soldado me indicou. O palácio, como é chamada, está situado na parte mais elevada da cidade, tem apenas um pavimento e é de aparência muito ordinária. Chegando à porta encontrei-a guardada por uma sentinela, um dos seres de aspecto mais ignóbil que se pode imaginar. Era um jovem mulato trajando a farda das tropas de linha, que parecia não lhe ter saído das costas havia bem seis anos; a sua barretina de pano era velha e ensebada; a blusa azul compunha-se metade de remendos e metade de buracos e deixava a descoberto o peito nu demonstrando a ausência de camisa; as calças eram pouco melhores do que a blusa, e os pés, sem meias, estavam metidos num par de velhas botas, acalcanhadas e estouradas nas pontas. Não fora o mosquete e a sua posição erecta, tê-lo-ia tomado por um mendigo. Havia em frente ao edifício uma calçada de poucos pés de largura, sobre a qual o meu cavalo, ao esbarrar, assentou as mãos, e antes que eu pudesse falar, a sentinela saltou para a frente, agarrou a brida e fez o animal voltar para a rua. Desmontei-me então e dirigi-me para a porta, porém, mal tinha posto os pés na calçada, quando fui tratado da mesma maneira que o meu cavalo, e informado de que ninguém podia entrar em palácio de esporas. Tirei-as no mesmo instante e, tendo perguntado se ainda era preciso alguma cousa, permitiu-se-me de entrar. Ao chegar na antecâmara, veio ao meu encontro um sargento que indagou se eu desejava falar com Sua Excelência, e dizendo-lhe que eu trazia cartas para o mesmo, disse-me ser seu dever entregar-lhas. Depois de esperar cerca dum quarto de hora na antecâmara, fui conduzido a uma espaçosa sala contendo duas pequenas mesas, um sofá e algumas cadeiras. Achando-me ali havia menos de cinco minutos, quando Sua Excelência apareceu trazendo em punho as minhas cartas. Pediu-me que o desculpasse enquanto as lia e que não reparasse no traje caseiro que usava em consequência do grande calor do dia. O vestuário era certamente muito leve, mas era usado em geral em casa pelos habitantes da província; consistia numa tênue camisa de algodão branco caindo solta sobre um par de ceroulas do mesmo estofo, que desciam apenas um pouco abaixo dos joelhos; as suas pernas e pês estavam nus, os últimos metidos num par de chinelos; em volta do pescoço trazia diversos rosários com crucifixos e outros penduricalhos de ouro. Enquanto ele percorria as minhas cartas, não pude coibir-me de escrutar a aparência dum indivíduo cujo nome é mais afamado do que qualquer outro no norte do Brasil (...)”.
Fonte: Trecho do livro “Cronologia Histórica do Estado do Piauí – Volume 2” de F. A. Pereira da Costa, ano de 1974, p. 404.
Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará
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