John Tornow — o Selvagem de Wynoochee
John Tornow nasceu em 1880, filho de uma família de colonos nas margens do rio Satsop, no noroeste dos Estados Unidos. Desde menino, buscava o refúgio da floresta, evitando a convivência com outras crianças. Aos dez anos, após perder o cão favorito em uma briga familiar, afastou-se ainda mais da vida doméstica e mergulhou de vez na solidão dos bosques. Tornou-se um caçador notável, rastreador hábil e atirador preciso, mas sua aparência — um homem de quase dois metros, vestido em peles, silencioso e arredio — logo se transformou em motivo de temor e rumores.
Em 1909, depois de ameaçar lenhadores que trabalhavam na região, foi internado em um sanatório no Oregon. Escapou no ano seguinte e desapareceu entre as árvores. Dois anos depois, a tragédia estourou: em setembro de 1911, os gêmeos John e Will Bauer, seus sobrinhos de 19 anos, foram mortos a tiros perto da cabana da família. Alguns diziam que o confundiram com um urso; outros, que o atacaram primeiro. A caçada que se seguiu reuniu mais de cinquenta homens, mas Tornow escapou com facilidade, fortalecendo sua aura de fantasma indomável da mata.
Nos meses seguintes, invadiu cabanas e armazéns para sobreviver. Em uma dessas investidas, levou um cofre com 15 mil dólares, pertencente ao Jackson’s Country Grocery. Logo a recompensa por sua captura chegou a 2 mil dólares, especialmente depois do assassinato brutal do xerife McKenzie e do guarda Albert Elmer, encontrados enterrados às pressas com tiros certeiros na cabeça. O medo tomou conta das cidades vizinhas, crianças eram mantidas em casa, e o “Wild Man of the Wynoochee” virou um mito vivo.
O desfecho veio em 16 de abril de 1913. O vice-xerife Giles Quimby e dois companheiros descobriram uma cabana rústica no meio da mata. Houve troca de tiros: Louis Blair ficou ferido, Charlie Lathrop morreu na hora, e Quimby, sozinho, tentou negociar. Tornow revelou que enterrara o dinheiro roubado em Oxbow, perto de uma rocha em forma de barbatana, mas logo em seguida caiu sob o fogo das balas. Foi encontrado morto, escorado contra um tronco, com poucas moedas de prata nos bolsos e roupas costuradas com fibras de abeto.
A notícia espalhou-se de imediato. Em Montesano, mais de 600 pessoas lotaram o necrotério para ver o corpo do temido foragido. A multidão arrancava pedaços de sua roupa como lembrança, e cartões-postais com a foto de seu cadáver circularam na mesma semana. Uma dessas imagens — hoje preservada em acervos históricos — mostra Tornow morto, rifle apoiado nos braços, ladeado por dois homens armados que posam como caçadores diante da presa.
Enterrado no cemitério de Matlock, John Tornow nunca foi esquecido. O cofre de 15 mil dólares jamais foi encontrado, alimentando buscas e lendas. Para uns, foi um assassino cruel; para outros, um homem transtornado e mal compreendido. Mais de um século depois, continua a habitar o folclore do noroeste americano como uma figura trágica, meio fera, meio mito — lembrança de como a solidão, o medo e a violência podem transformar um homem em lenda.
A História Esquecida (Facebook)
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