Os supostos autores da morte do Cel. Delmiro Gouveia...
O grande erro judicial.!A morte de Jacaré
A história do sertão é cheia de mistérios, silêncios e versões contadas ao gosto de quem detinha o poder. Entre essas tramas, uma se destaca: a morte de José Ignácio Pia, conhecido como Jacaré, um homem que carregou nas costas a acusação de um crime que nunca cometeu.
José Ignácio Pia, o Jacaré, ao lado de seu companheiro de trabalho e de vida, Róseo Moraes, foi apontado como um dos responsáveis pelo assassinato do Coronel Delmiro Gouveia. Uma acusação tão injusta quanto conveniente para os desafetos do coronel. Ambos já haviam sido demitidos antes da tragédia e, pouco depois, contratados por outro coronel influente da região, Neco Brito, de Propriá. A armação estava montada.
Presos e condenados, Jacaré e Róseo tentaram resistir ao destino que lhes fora imposto. Fugiram uma primeira vez, mas foram recapturados. Numa segunda tentativa, apenas Jacaré conseguiu escapar. Sua fuga foi marcada por sangue e luta: enfrentou a polícia, embrenhou-se pelas matas, atravessou canaviais, movido pela certeza de que precisava viver para contar o que sabia.
Mas o sertão não perdoa quem ameaça revelar verdades perigosas. Convocado para caçá-lo, o oficial José Lucena, famoso pela perseguição a cangaceiros, seguiu suas pistas até Japaratuba, já na fronteira entre Alagoas e Pernambuco. Lá, após intenso combate, Jacaré foi abatido. Seu corpo exibido em fotografias, sua morte anunciada como a vitória da lei.
No entanto, a dúvida permaneceu. Teria sido apenas justiça contra um fugitivo ou a execução de uma queima de arquivo? Jacaré conhecia os bastidores da morte de Delmiro Gouveia, sabia da suposta contratação de Sinhô Pereira e Luiz Padre para consumar o crime. Se vivo, poderia denunciar os verdadeiros culpados.
Róseo permaneceu preso, cumpriu pena, mas anos mais tarde, tanto ele quanto Jacaré foram reconhecidos como inocentes. Tarde demais. O sertão já havia engolido a vida e a voz de um homem que morreu levando consigo segredos que poderiam reescrever a história.
A morte de Jacaré não é apenas o fim de um perseguido. É o retrato da injustiça, da manipulação política e do silêncio imposto pela força. Um mistério que resiste ao tempo, ecoando nos caminhos empoeirados da memória nordestina.
Comentários
Postar um comentário