Natal e férias da Tinta-da-China Brasil: livros para ler e presentear - Julio Sitto

 


Natal e férias da Tinta-da-China Brasil: livros para ler e presentear

Seleção da editora inclui crônica, não ficção, trajetórias de mulheres viajantes, história dos números e a prosa e poesia de Ricardo Reis

Procurando presentes de Natal ou leituras para as férias? Esta lista traz livros da Tinta-da-China Brasil para diferentes perfis de leitores, dos que gostam de ficção e não ficção aos apaixonados por crônicas e memórias. São histórias que vão desde viagens de mulheres corajosas e descobertas afetivas em meio à diáspora africana até as origens dos números e da matemática, desembocando na obra completa de Ricardo Reis, em um volume que reúne pela primeira vez no Brasil toda a produção poética e toda a prosa do heterônimo de Fernando Pessoa. 

São títulos que combinam com o ritmo das férias e fazem bons presentes para quem você quer surpreender. Confira: 

Obra completa de Ricardo Reis, de Fernando Pessoa, com organização de Jerónimo Pizarro e Jorge Uribe

Em 1935, Reis escreveu o poema “Vivem em nós innumeros”. Se dentro de Pessoa viveram inúmeras pessoas de Pessoa, dentro de Reis também viveram, de fato, inúmeros: o neoclássico antagonista do Integralismo Lusitano, o prefaciador de Caeiro, o médico semi-helenista, o tradutor de Safo e Aristóteles, o monárquico exilado — quiçá no Brasil —, o defensor da obra perfeita de Milton, o ensaísta interessado em sexualidade, ciência e religião, o crítico do “christismo”, o teórico de um novo ideal pagão, o espectador do mundo como se fosse um jogo de xadrez, o poeta da fugacidade do tempo e da aceitação calma do destino. 

Obra completa de Ricardo Reis reúne pela primeira vez toda a prosa e toda a poesia do primeiro heterônimo criado por Fernando Pessoa. O volume, que integra a Coleção Pessoa na Tinta-da-China Brasil, inclui textos inéditos de Reis, novas leituras dos versos e da prosa, além de imagens dos manuscritos. Com edição rigorosa, paratextos e estabelecimento de texto de Jerónimo Pizarro e Jorge Uribe, o leitor brasileiro terá acesso a grandes obras ricardianas — como as famosas odes e o prefácio aos poemas de Alberto Caeiro — na grafia original de Pessoa. Tudo isso embalado em capa dura serigrafada, com o design inconfundível de Vera Tavares.

A descoberta dos números: uma aventura matemática, de Marcelo Viana



Desde quando começamos a contar carneiros no pasto com pedrinhas até os algoritmos Deep Blue e AlphaGo, que aprenderam a jogar xadrez e go melhor do que nós, a história dos números é repleta de descobertas fascinantes. Neste livro inédito, Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e autor do sucesso de vendas Histórias da matemática, percorre toda essa trajetória com clareza e entusiasmo, unindo a precisão científica à generosidade de um professor comprometido em democratizar o conhecimento. 

Cada capítulo traz curiosidades, ilustrações e reflexões que transformam conceitos abstratos em experiências concretas e vívidas, além de minibiografias dos cientistas que protagonizaram essa jornada. Num texto que cativa entusiastas e especialistas, Viana explora todo o espectro de categorias numéricas: dos naturais e primos aos surreais e hipercomplexos, passando por racionais, incomensuráveis, negativos, imaginários e infinitésimos, entre tantos outros. 

Embora a matemática possa parecer uma ciência fria e objetiva, este livro traz temas que foram e são objeto de controvérsias, disputas e paixões. É o caso dos números negativos, plenamente aceitos só há pouco mais de um século — antes disso, era difícil admitir que existisse alguma coisa menor do que zero, e até hoje há quem questione a regra de que menos vezes menos dá mais, comprovada pelo autor de modo exemplar. 

Viana desmente mitos, como o de que a razão áurea e os números de Fibonacci estão por toda parte e por trás da construção de grandes obras da arquitetura, como o Partenon e o Taj Mahal. Ao mesmo tempo, revela que de fato a disposição das sementes na flor da camomila segue padrões matemáticos, assim como certas obras de Portinari. 

Transitando com naturalidade entre a mitologia, a biologia e as artes visuais, o autor combina a erudição de um humanista com a obsessão de um matemático que tem como missão democratizar o conhecimento. A descoberta dos números conta com o traço original de Rafael Sica e é uma espécie de almanaque ilustrado para todas as idades. Para quem ainda vê a matemática como uma ciência árida, este livro conciso e abrangente é uma oportunidade de enxergar os números sob novos ângulos — e descobrir a beleza que eles escondem.

Antes do início, de Ernesto Mané


Em 2010, o físico paraibano Ernesto Mané embarca numa travessia geográfica e afetiva para realizar um antigo anseio: conhecer a família paterna na Guiné-Bissau. Ele sai dessa experiência de alguns meses profundamente transformado. Quinze anos depois, o agora diplomata de carreira e cidadão guineense dá forma literária a seu diário da viagem neste Antes do início, que chega às livrarias pela Tinta-da-China Brasil. Nas palavras do escritor e curador angolano Kalaf Epalanga, que assina o texto da orelha, o livro é uma “obra rara”, em que “a grande tragédia africana é narrada na mesma frequência de autores como Ta-Nehisi Coates ou Mia Couto”.

Hospedado na casa de uma tia em Bissau, o narrador aguça a escuta para aprender com as tradições e crenças de seus avós, tios, irmãos, primos e sobrinhos, enredando-se em seu dia a dia. Vai até o interior para visitar os avós, que vivem em condições precárias em uma bolanha, uma plantação de arroz. O futuro diplomata atua como mediador dos conflitos de seus familiares, marcados pelo abandono de um pai que jamais está lá, mas parece estar sempre presente. 

O tom vai do otimismo com o potencial cultural e político do país ao desalento diante do destino trágico da África pós-colonial. Mané muitas vezes sente-se impotente. Para sua surpresa, nas ruas de Bissau é tratado como branco pela primeira vez, por seu modo de se vestir, falar e se comportar. 

Depois da viagem, entre laboratórios, centros acadêmicos, postos diplomáticos e aeroportos pelo mundo, Mané elabora suas respostas para o velho racismo guardado nas memórias de infância. Na tentativa de resistir a essa violência histórica e reconstruir uma identidade esfacelada pela diáspora africana do século XX, o filho se aproxima do pai. Entre as resoluções tomadas na viagem está o pedido da dupla cidadania guineense e brasileira.

As questões mais íntimas se desdobram em reflexões filosóficas e universais quando o autor se pergunta quem é, de onde vem, para onde vai — e para onde se vai como corpo negro no mundo. Numa escrita sóbria e sensível, que se move com naturalidade entre o diário de viagem, a memória e o ensaio, Mané busca seu próprio “t = 0”, o tempo zero da física, para fundar um espaço de pertencimento e reconciliação.

Viagem no país da crônica, de Humberto Werneck


Os autores da era de ouro da crônica brasileira podem até se contar nos dedos das mãos, mas os temas e lugares incomuns encontrados nos textos aqui reunidos tornam Viagem no país da crônica uma leitura farta e variada, que nos fala do Brasil de certo tempo e do mundo em qualquer tempo.

Tudo é matéria para a crônica — do eclipse ao uísque, do mar à morte, da fé às fotografias, da chuva aos golpes de Estado —, desde que o tratamento dado a essa matéria seja o de quem está sentado ao meio-fio (ou ao rés do chão, como define Antonio Candido), jogando conversa fora, com a pressa ditada pelos prazos de entrega. Será então a crônica o “patinho feio” da literatura?

Mais do que tentar definir o gênero, este livro costura crônicas amigas e anedotas saborosas, percorrendo o ano de janeiro a dezembro, com seus sábados, carnavais, primaveras e maios. Entre os autores citados estão Clarice Lispector, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz, Rubem Braga — e quem lança luz sobre cada pérola cunhada por eles é Humberto Werneck, uma ponte entre a geração que floresceu nos anos 1950 e a contemporânea.

Mulheres viajantes, de Sónia Serrano

O livro de Sónia Serrano conta a história de várias mulheres que, ao longo dos séculos, desafiaram convenções e viajaram sozinhas. São mulheres corajosas, que muitas vezes tiveram que assumir identidades masculinas para viver livremente seus sonhos e não se deixaram restringir aos espaços que lhes eram reservados. Enquanto descobriam a si próprias e a um mundo que sempre lhes foi proibido, essas mulheres também se destacaram ao mapear regiões, descobrir novas espécies de plantas, tratamentos para doenças e tesouros arqueológicos, além de assumir posições centrais nos debates e negociações geopolíticas de sua época.

Desde Egéria, que no século IV partiu da Península Ibérica para a Terra Santa, passando pelas aventureiras que se lançaram às grandes navegações e pelas arrojadas vitorianas que desbravaram os confins do Império Britânico — até o século XXI, incluindo um capítulo sobre Tamara Klink escrito exclusivamente para a edição brasileira, entre outros de diversas autoras contemporâneas —, Serrano seleciona e cita trechos das obras que resultaram desses périplos, oferecendo uma bela amostra da literatura de viagem escrita por mulheres ao longo do tempo.

O turista aprendiz, de Mário de Andrade, com apresentação de Flora Thomson-DeVeaux




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