ACOPIARA, SONHO OU MIRAGEM? - POR TIBÚRCIO BEZERRA NETO (IM MEMORIAM)


ACOPIARA, SONHO OU MIRAGEM?

Tio Souzinha era irmão de meu pai, casado com uma das irmãs da minha mãe e morava no sítio Varas, em casa contígua à de vovó Mariquinha. Estou falando de 1955 Família numerosa, tempos escassos e vida difícil para meu tio. Nada porém lhe tirava o otimismo e a confiança no futuro. Enquanto alimentava seus planos, procurava tocar com dignidade a criação da numerosa prole.

Amistoso como era, estava sempre aberto, também, aos sobrinhos. Eu, talvez pela condição de órfão de pai, gozei de uma certa deferência e sempre estive na mira da sua preciosa atenção. Seria uma espécie de filho, a me juntar aos seus. Pesava o fato de morar em casa muito próxima.
Um certo dia, ele anunciou que, em data futura, nos levaria eu, Tibúrcio, seu filho e Zezim de tia Mundinha para um passeio em Acopiara, onde residia o nosso tio Chico Tibúrcio. Para tanto aproveitaria o caminhão de um amigo, vindo de Farias Brito com destino a Acopiara. O intermediário de tudo teria sido tio Bié, que residia em Farias Brito, desfrutando então de sadias amizades.
Naquela tempo, quando tudo era muito difícil, aquela viagem surgia como uma oportunidade de ouro. Viajar de caminhão e conhecer Acopiara não era para todo mundo.
Tibúrcio Bezerra, meu primo carnal que mora em São Luiz, me falou daquela nossa viagem recentemente e meu ex-colega de Seminário e Desembargador aposentado, Dr. Celso Albuquerque, me cobrou um relato da mesma. A ambos prometi fazê-lo. Fui catar nas gavetas da memória o que resistiu ao tempo.
Lembro da nossa ansiedade. Três crianças, que nunca tinham viajado para lugar nenhum e nem sequer conheciam por dentro a boleia de um caminhão! Minha mãe me arrumou cedo com a roupa que eu só vestia para ir para a igreja. O mesmo aconteceu com os primos e assim, sob o comando do tio Souzinha, ficamos de prontidão à espera do transporte A previsão era de que passasse, mais ou menos, às 7:00 h
O ponto de parada seria a casa da minha mãe, localizada em ponto estratégico, vizinha à Usina Diniz. Para nós, as horas não passavam. Até que o relógio da matriz bateu 7:00 h. Aumentou a nossa ansiedade e passamos a perseguir com os olhos qualquer espectro que surgisse no fim da rua.
Nada de caminhão, até às 7:30 hs. A estrada é muito ruim e é natural que os carros atrasem, diziam uns. Para outros, podia ser um problema de pneu. Para nós, o cúmulo da expectativa, pois já passava de 8:00 hs
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Já são 9 e nem sinal. Sem telefone e sem qualquer outra via de comunicação, já não esperávamos com o mesmo ardor. Bateu a incerteza porque descambava das 11 e já se aproximava a hora do almoço. Sem esconder o desapontamento, tio Souzinha desistiu do plano e cancelou o passeio. Ainda hoje não sei se o caminhão um dia passou.
A nós sobrou a decepção de um passeio frustrado e a chateação de suportar a gozação dos primos que não foram convidados. A verdade é que, muito depois, conheci Acopiara, onde tenho muitos amigos, sem nunca ter ido lá a primeira vez.

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