Os benzedores têm interessante oração, bastante conhecida no
sertão, para quando se torce um pé. Apanham um novelo de fio e com
uma agulha, fazendo os movimentos naturais de quem está cosendo,
proferem as palavras que se seguem, fitando atentamente o enfermo: Carne trilhada, nervo retorcido...
Osso e veia, até cordoveia,
Tudo isso coso, com graça e louvor
de meu São Fructuoso.
LOURENÇO FILHO (Juazeiro do Padre Cícero, p. 188) registrou
uma variante, sem apreciável modificações:
Carne trilhada,
Nervo torcido,
Ossos e veias
E cordoveias,
Tudo isso eu coso
Com louvor
De São Francisco.
Decididamente, como dezenas de outras, o estranho ensalmo
veio-nos, decerto, de Portugal. Em alijó encontramo-lo assim:
Eu que coso?
Pé aberto, fio torto
Isso mesmo é que eu coso.
(Reza-se um padre-nosso e uma ave-maria).
E outra interessante variante, que se aproxima da que anotamos
no sertão do Ceará, é-nos fornecida ainda por J. LEITE DE VASCONCELOS:
Eu que coso?
A carne aberta e fio torto.
Isso mesmo é que eu coso,
Em louvor de São Gonçalo,
Pra que torne o pé ao seu estado.Vale a pena lembrar que, na medicina latina antiga, contre
les luxations mandavam proceder-se assim: Cuupez un roseau
vert; que deux hommes le tiennent sur vos cuisses e chantez:
Santias fracto notas vaetas daries dadaries astata taries die una
paries (La Médecine Latine, pelo Dr. PAUL SEIDMAN, in Histoire
Générale de la Médecine, MCMXXXVI, p. 357).
Anotamos uma outra variante da oração para desmentimentos,
colhida por nós na Barra do Ceará:
O que eu coso?
Carne triada e osso desconjuntado e também nervo retorcido.
Isso mesmo é que eu coso.
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