A reza de D. Loza ( Texto do livro: Medicina Popular, de Eduardo Campos)

Os benzedores têm interessante oração, bastante conhecida no sertão, para quando se torce um pé. Apanham um novelo de fio e com uma agulha, fazendo os movimentos naturais de quem está cosendo, proferem as palavras que se seguem, fitando atentamente o enfermo: Carne trilhada, nervo retorcido... Osso e veia, até cordoveia, Tudo isso coso, com graça e louvor de meu São Fructuoso. LOURENÇO FILHO (Juazeiro do Padre Cícero, p. 188) registrou uma variante, sem apreciável modificações: Carne trilhada, Nervo torcido, Ossos e veias E cordoveias, Tudo isso eu coso Com louvor De São Francisco. Decididamente, como dezenas de outras, o estranho ensalmo veio-nos, decerto, de Portugal. Em alijó encontramo-lo assim: Eu que coso? Pé aberto, fio torto Isso mesmo é que eu coso. (Reza-se um padre-nosso e uma ave-maria). E outra interessante variante, que se aproxima da que anotamos no sertão do Ceará, é-nos fornecida ainda por J. LEITE DE VASCONCELOS: Eu que coso? A carne aberta e fio torto. Isso mesmo é que eu coso, Em louvor de São Gonçalo, Pra que torne o pé ao seu estado.Vale a pena lembrar que, na medicina latina antiga, contre les luxations mandavam proceder-se assim: Cuupez un roseau vert; que deux hommes le tiennent sur vos cuisses e chantez: Santias fracto notas vaetas daries dadaries astata taries die una paries (La Médecine Latine, pelo Dr. PAUL SEIDMAN, in Histoire Générale de la Médecine, MCMXXXVI, p. 357). Anotamos uma outra variante da oração para desmentimentos, colhida por nós na Barra do Ceará: O que eu coso? Carne triada e osso desconjuntado e também nervo retorcido. Isso mesmo é que eu coso. 


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