A Umbanda e o Sincretismo com o Catolicismo.


A Umbanda e o Sincretismo com o Catolicismo.
    Todos os Umbandistas, sejam eles filhos de algum Terreiro ou sejam
apenas consulentes ou da assistência, com toda certeza já ouviram falar
a palavra "sincretismo".
    Mas o que seria "sincretismo"?
    No dicionário  de língua portuguesa essa palavra é representada e
explicada da seguinte forma:
SINCRETISMO: fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, com
reinterpretação de seus elementos; - fusão de elementos culturais
diversos, ou de culturas distintas ou de diferentes sistemas sociais.
( Dicionário Houaiss)
Palavra originada do grego significa sistema que consiste em conciliar
os princípios de várias doutrinas ou filosofias; é a associação                                                       
de valores espirituais de uma determinada religião com os valores
espirituais de outra determinada religião.
    No dicionário de Umbanda, sincretismo se define simplesmente
assim:
SINCRETISMO: - Fenômeno de identificação dos orixás com os Santos
Católicos.
    E dessa forma mais simples podemos notar que ao cultuar as imagens
de santos católicos, os Umbandistas cultuam na verdade seus Orixás.
    Mas porque teve que ser trazido essas imagens para os rituais de
Umbanda ?
    Vamos voltar um pouco no tempo para entendermos.
    Tudo se originou no tempo em que os negros eram traficados da sua
terra mãe África, trazidos para o Brasil em navios negreiros, onde
esses negros eram negociados e escravizados pelos senhores
escravocratas e fazendeiros cafeicultores de várias regiões.
    Como nessas regiões a religião predominante era a católica, esses
negros eram proibidos de exaltar a fé que tinham em seus Orixás, sendo
surrados e até mortos quando tentavam demonstrar sua fé nessa força da
natureza.
    Então esses negros se utilizavam da imagem de santos cultuados
pela Igreja Católica por um fato histórico cultural, na medida em que
os negros que chegavam ao Brasil como escravos, oriundos das diversas
tribos africanas, traziam em seu interior a crença nos Orixás, porém
não podiam manifestá-la pelo preconceito de seus senhores, que
consideravam tal culto heresia e feitiçaria.

    Na África, seu culto fazia-se com o contato direto com a Natureza,
cada Orixá sendo cultuado em seu elemento. O negro africano cultuava
sua crença através de seus Otás (pedra). Cada Orixá tem a sua pedra, e
a forma encontrada pelos negros escravos foi associar a imagem do
santo católico mais representativa da força desses Orixás, colocar
seus otás dentro destas imagens e reverenciar sua crença sem tê-la
reprimida por seus senhores. A partir desse momento, dava-se início ao
sincretismo dessas duas religiões, já que a correspondência de Santos
Católicos com os Orixás africanos era a única maneira dos negros
escravos escaparem dos castigos e perseguições dos seus senhores e de
religiosos que tentavam difundir o catolicismo, impondo a crença com
as suas representações católicas.
    Os Senhores achavam graça no sincretismo e, considerando os
africanos ignorantes, consentiam na prática bem disfarçada de seus
cultos. E assim, graças à inteligência dos sacerdotes africanos, as
suas antiquíssimas e sábias ideias religiosas puderam sobreviver até
hoje, apesar da intolerância de uma ou outra autoridade da lei
atrasada.
    Portanto encontramos até hoje, as casas de culto de Umbanda
utilizando-se dessa representação sincrética, não pela necessidade do
culto à imagem, mas sendo admitida pelos zeladores de santo para que
os filhos de santo e frequentadores da casa tenham uma imagem para
direcionar suas súplicas e pedidos já que para alguns, dirigir seus
pedidos a energias da natureza, forças oriundas do ar, da água, da
terra ou do fogo, é de difícil compreensão por seu componente abstrato
e impalpável.
    Enfim, não existe imagem representativa dos Orixás na Umbanda,
razão pela qual se permite a utilização dos Santos católicos nos
Gongás, havendo o respeito tanto ao Orixá representado pela imagem,
como respeito ao santo cultuado pela mesma.
    A Umbanda é um celeiro de fé e nela cabem todas as espécies de
crenças que possam nos levar ao objetivo maior de amor e caridade
pregado pelas nossas entidades.
    O africano não abandonou as suas crenças religiosas. Simplesmente,
procurou acomodar-se a situação e o processo mais inteligente foi
exatamente o de comparar as qualidades dos seus Orixás com as dos
Santos católicos. Tomaram como base o Santo mais adorado do lugar:
daí, algumas alterações verificadas no sincretismo, especialmente na
Bahia e no Rio de Janeiro, conforme descrevemos abaixo:
Na Bahia:

OXALÁ: Senhor do Bonfim.
OGUM: Santo Antônio.
XANGÔ: São Jerônimo.
OXOSSI: = São Jorge.
OMULÚ ou OBALUAIÊ: São Lázaro e São Roque.
LOGUM EDÉ: Santo Expedito.
OXUMARÊ: São Bartolomeu
OXUM: Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora Aparecida.
IEMANJÁ: Nossa Senhora da Conceição.
IANSÃ ou OIÁ: Santa Bárbara.
NANÃ BURUQUÊ: Nossa Senhora Sant'Ana.

No Rio de Janeiro:

OXALÁ: Jesus Cristo.
OGUM: São Jorge.
XANGÔ: São Pedro ou São Gerônimo.
OXOSSI: São Sebastião.
OMULÚ Ou OBALUAIÊ:São Lázaro e São Roque.
OXUM: Nossa Senhora da Conceição.
IEMANJÁ: Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Glória ou Nossa
Senhora dos Navegantes.
IANSÃ: Santa Bárbara.
NANÃ BURUQUÊ: Nossa Senhora Sant'ana.
IBEIJI: São Cosme e São Damião.
EXÚ: Santo Antônio de Pemba.

    O sincretismo se faz entre Divindades, assim, não há sincretismo
entre as Entidades, tais como Caboclos, Pretos Velhos ou Crianças,
ainda que seja comum vermos Pais Franciscos, Antonios, Ciprianos e
tantos outros, mas que nada têm de sincrético com os santos de mesmo
nome.

    A Umbanda apresenta sincretismo também com o Candomblé, não se
confundindo com esse, no entanto. Ambas são religiões com base em um
culto ancestral africano, com crença em Orixás africanos, mas cada um
encontra seu diferencial na forma de manifestação de sua crença.

    As datas de festejos aos Orixás dentro da Umbanda também são
representadas ´pelas datas que se homenageiam os Santos Católicos,
conforme descrevemos abaixo, frisando que estamos falando das datas
que seguimos no Rio de Janeiro:

Oxalá: 25 de dezembro. (Dia do nascimento de Jesus Cristo).
Ogum: 23 de abril. (Dia de São Jorge).
Xangô: 29 de Junho (Dia de São Pedro), e 30 de Setembro. (Dia de São
Gerônimo).
Oxossi: 20 de Janeiro. (Dia de São Sebastião).
Obaluaiê: 16 de Agosto (Dia de São Roque).
Omulú: 17 de Dezembro. (Dia de São Lázaro).
Oxum: 08 de Dezembro. (Dia de Nossa Senhora da Conceição).
Iemanjá: 02 de Fevereiro (Dia de Nossa Senhora das Candeias).
15 de Agosto. (Dia de Nossa Senhora da Glória).
Iansã: 04 de Dezembro. (Dia de Santa Bárbara).
Nanã Buruquê: 26 de Julho. (Dia de Nossa Senhora Sant'ana).
Ibeiji: 27 de Setembro. (Dia de São Cosme e São Damião).
Exú: 13 de Junho. (Dia de Santo Antônio de Pemba).

    E assim é dado o sincretismo entre a religião Umbandista e a
religião Católica. E para terminarmos esse texto, abaixo descreveremos
a definição de sincretismo feito pelo Caboclo 7 Espadas:

    "Fenômeno místico religioso que visa tornar inteligível um Culto
que possa ser praticado por vários povos ou grupos étnicos, que até o
momento tinham rituais e concepções diferentes. É um mal necessário,
pois se formos analisar profundamente o Sincretismo vamos ver que ele
faz com que vários Cultos se identifiquem em um só Culto (…)”."

    E com essa bela colocação e definição do Caboclo 7 Espadas,
terminamos pedindo a todos Umbandistas ou não para que respeitem
profundamente as imagens Católicas, fazendo delas o teor da fé nos
Orixás representadas por elas.

    Salve Pai Oxalá, salve todos os Orixás!

Salve Jesus Cristo, salve todos os Santos Católicos que emprestam suas
imagens para que possamos através delas cultuar  nossos sagrados Orixás.

Carlos de Ogum.


Obs.: Esse tema foi sugerido pelo nosso querido Cristyann de Oxossi.
Ogã e encaminhador do TUPOM.

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