O SAPATEIRO DE LAMPIÃO - POR BETO RUEDA

 


O SAPATEIRO DE LAMPIÃO

Por Beto Rueda
Em meados de 1926, Lampião concebeu um plano para aniquilar o vilarejo de Nazaré, reduto dos seus inimigos. O plano consistia em isolá-lo do resto do mundo através da proibição da entrada ou saída de qualquer vivente, com o que acreditava levaria os moradores a total inanição, quando então daria o bote final.
João Severo, sapateiro conhecido, que fazia alpergatas para várias pessoas, inclusive ao chefe dos cangaceiros, foi acusado de levar e trazer mantimentos para a vila. Furioso, Lampião destacou Sabino para pegá-lo vivo ou morto.
Avisado com antecedência, João Severo mudou o seu itinerário, fracassando o célebre lugar tenente nas duas emboscadas que esse lhe preparou.
A partir de então, Sabino disse a Lampião que a maneira mais fácil de capturá-lo seria na festa de "renovação de santo, na casa de seu pai, na fazenda Cipó.
No dia da festa, João chegou a festa despreocupado e foi preso por dois cangaceiros que o levaram a Sabino e Antônio Ferreira. Era o seu fim.
Nesse momento, como por milagre, foi chegando o padre José Kherle que viera para rezar a renovação e intercedeu a favor do sapateiro, foi o que lhe salvou a vida.
O padre pediu pela presença de Lampião. Contrariado, Sabino mandou trancar o infeliz em um quarto, enquanto esperava a decisão final do chefe.
Sabino e Antônio Ferreira dançaram e beberam até o quebrar da barra. Lampião só chegou no clarear do dia.
Quando soube da prisão, Lampião mandou levar o sapateiro a sua presença e disse: "- Mas João, você como meu amigo, como pode ter me traído desse jeito?" Severo, sentindo o cheiro da morte ao seu redor, quase chorando, respondeu: "- Eu ando em Nazaré quase todo dia tratando dos meus negócios, compro uma solinha, os pregos e outras coisas para o meu serviço. Eu tenho família em Nazaré, não nego, como você também tem!
Satisfeito com a explicação do prisioneiro, Lampião ficou pensativo.
De repente, achegou-se Sabino de parabellum engatilhado, os olhos injetados de sangue, doido para matar. "- Como é compadre, vamos ou não vamos estourar os miolos desse infeliz?"
O rei do cangaço, sem nada responder, afastou Sabino para o lado e mandou que João Severo fosse embora em paz.
O sapateiro em felicidade comentou: "- Devo a minha vida em primeiro lugar ao padre José e em segundo a Lampião. Pelo gosto de Sabino, eu já era defunto a muito tempo.
Imagem: Foto de João Severo aos 93 anos, em 1995.
REFERÊNCIA:
LUCETTI, Hilário; DE LUCENA, Magérbio. Lampião e o estado maior do cangaço. Crato: Craturismo, 1995.

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